30 julho, 2006

Manuel alegre patriota


MANUEL alegre patriota
Sucesso scolari

Manuel Alegre é mesmo vidrado em bola. Neste Mundial, o homem escreveu coisas que eu nunca pensei ser possível vindas de um poeta. Não que a um poeta lhe seja vedado o gosto pela bola. Nada disso. Quem gosta de futebol, gosta, ponto final, parágrafo. Eu até podia gostar mais de futebol, se este espectáculo não se traduzisse num jogo de interesses, de negócios em que os clubes grandes estão sempre em cima e os pequenos são sempre os mesmos. Isto para além de ser também um grande sorvedor de dinheiros públicos. As Câmaras Municipais que o digam.
Com as suas crónicas, Manuel, o alegre patriota conseguiu intelectualizar o futebol, misturando a poesia de Sofia com as jogadas de Deco, Figo e companhia.

Mas o que me causou alguns foras de jogo foi o que ele escreveu a propósito da selecção nacional, que mais uma vez, diga-se, sob o comando do vendedor de relógios, nada ganhou. Manuel Alegre que consegue vislumbrar altas virtudes no futebol, escreveu muitos “poemas”, mas este que escreveu no dia seguinte à derrota portuguesa com a França, é de se lhe tirar o chapéu: “agora trata-se de agradecer à selecção o que ela fez por nós. A selecção restituiu ao povo português o orgulho nacional, com talento, patriotismo e convicção”. Haverá decerto quem tenha gostado deste pedaço de poesia. Há com certeza. Não é por acaso que mesmo perdendo o terceiro lugar neste mundial, os portugueses tenham ainda pinchado de alegria. Tudo bem. Só uma pergunta: Como é que a França que ficou em segundo lugar, ficou triste e nós que ficamos em quarto pulamos de contentes? É uma questão de cultura futebolística se calhar. Depois com tanto orgulho nacional, com tanto patriotismo, ainda vou ver os bandeirantes portugueses a apoiar os trabalhadores, futuros desempregados da GM na Azambuja.

O Manuel, alegre patriota, quando fala dos jogadores da selecção dá ênfase ao patriotismo, que, jogando como jogaram, conseguiram espalhar por todo o mundo. Só gostava de saber que tipo de portuguesismo e patriotismo são aqueles. Que patriota é por exemplo, o Cristiano Ronaldo que joga num clube estrangeiro contra clubes portugueses. E o Figo? E o Pauleta? E o Ricardo Carvalho? E o Meira? O patriotismo destes jogadores de futebol está é nas notas de euros. Ou é mentira? Veja-se o caso do pedido de isenção de IRS referentes aos prémios que tiveram por terem alcançado um “grande e prestigioso” quarto lugar. Ficamos todos felizes, Manuel, alegre patriota.

Quanto ao sucesso scolari, é de facto muito prestigiante. Em 2004 apesar da andança e festança, a selecção nacional tirou nota negativa, perdeu com a Grécia em casa. Em 2006, (também com os sub-21) as negas continuaram. Aliás, outro resultado não seria de esperar. O programa foi uma cópia do anterior, o método de trabalho foi igual, o professor foi o mesmo, e os alunos eram quase todos repetentes. O resultado só podia ser o que foi, um fiasco. É que o vendedor de relógios entendeu que “equipa que perde não se mexe”, por isso aqui está , o grande sucesso scolari.

Para terminar, devo dizer muito seriamente, que o Scolari é muito esperto. Ele vai ficar mais dois anos em Portugal, porque nós portugueses não somos muito exigentes naquilo que pedimos ao Felipão. Para nós portugueses, basta-nos que Scolari consiga unir os portugueses. Muitas bandeiras, muita festa e toda a gente a cantar o hino nacional. Se em termos de resultados, Portugal ficar em quarto ou quinto já é muito bom. Uma derrota é sempre uma vitória.
Scolari não vai para Inglaterra, para Itália, nem para a Alemanha, porque a pressão seria outra, pediam-lhe logo o titulo do quer que esteja a participar. E nisso ele não cai.

Claro que já foi campeão mundial pelo Brasil, poderão dizer e dizem muito bem. Mas ser campeão pelo Brasil nem é difícil, tal o campo de escolha de material humano para dar chutos numa bola e fabricar campeões.

Scolari ficou em Portugal porque Madaíl apenas lhe pediu para que a nossa selecção ficasse apurada para a fase final do Europeu de 2008, como se fosse difícil alcançar esse objectivo. Parece que ele não sabe que a nossa selecção é a mais forte do grupo nesta primeira fase. Com a fasquia colocada naquela altura, Scolari nem precisa de se esticar muito para lá chegar. Vai ganhar o seu ordenado com uma perna às costas. O vendedor de relógios não é burro nenhum. Quem for que vá para moleiro.

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