29 agosto, 2006

Vitorino cantou Zeca Afonso

Não se pode dizer que tenha estado muita gente na Agrival a ver e a ouvir o Vitorino. Estava um bom punhado de pessoas que já sabia para o que ia. Claro que o Vitorino merecia mais e melhor, mas parece que os agrivalistas naquela altura estavam virados para outro lado. Estavam virados para um desfile de “produto” que decorria lá mais em cima com casa cheia, cheiíssima. Um fartote de gente a ver uns “artigos” e a virar as costas à música portuguesa de qualidade.

Quem é que conhece o Vitorino? E depois era uma chatice ir ver em Penafiel, um gajo do Redondo, com o maior dos desplantes e fazer uma homenagem ao autor de Grândola. Isto mais parece um comício cantante, pensaram alguns. Isto é música para esquerdistas e intelectuais, pensaram outros, e zás toca a ir mas é ver umas pernocas e umas mamocas, que isso é que é cultura da boa.

Penafiel mostrou mais uma vez como anda o nível cultural das suas gentes. Já no ano passado, com a exibição da Ronda dos Quatro Caminhos, o recinto da Agrival estava quase às moscas. Está provado que os penafidelenses não gostam de música deste género. Daqui lanço um alerta ao principal responsável do certame, Sr. Adolfo Amílcar: “ não se dê ao trabalho de trazer à Agrival este tipo de música. Não vale a pena. As pessoas querem é forrobodó”. Sr. Adolfo Amílcar se perguntasse aos penafidelenses o que é que queriam ver na Agrival, a resposta só podia ser esta: “Queremos a Floribella”.

Mas mesmo com pouca gente, o espectáculo do Vitorino foi altamente positivo. Não é todos os dias que os penafidelenses vêem concertos musicais desta qualidade. Não todos os dias que nós dançamos e cantamos canções com “Tinta verde dos teus olhos”, “ A Queda do Império” ou “Venham mais Cinco” do José Afonso.

No final do espectáculo, alguns penafidelenses foram à procura do Vitorino para o cumprimentar, para lhe falar e de repente aconteceu tertúlia com o autor da “Menina que estás à Janela”. Houve poesia de Mário Cesariny. Houve autógrafos nas capas de discos de vinil.
“Eh pá você tem este disco?”, perguntava o Vitorino muito admirado, enquanto rabiscava a sua assinatura. Tenho todos, respondeu o meu amigo Oliveira.

Foi de facto um bom momento de música, de cultura. De cultura da boa. Paciência, se os penafidelenses se tenham entretido com coisas mais apetitosas.

Porra, cada um come aquilo do que mais gosta, não é assim? Ora bem...

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