O Achigã chigou-lhe
Eu não disse? Há dias eu não disse que o pescador lingrinhas haveria de se a ver com um peixe maior? E assim aconteceu.
Fui outra vez até Entre-os Rios ver os pescadores pescar. Pescadores e pescadoras, porque agora gajas não faltam de cana de pesca na mão. Fui para o mesmo sítio da outra vez, na perspectiva de ver de novo o pescador lingrinhas. E vi. Lá estava o enfesado a lançar o isco nas águas à procura de um peixe mais distraído, de um peixe mais esfomeado.
Esperei p´ra caraças. Talvez umas duas horas. Eu todo satisfeito de ver o lingrinhas a passar uma tarde na seca. Eu todo contente por verificar que os peixes afinal também foram de férias.
Já passava das seis da tarde, quando a cana começou a tremer. A tremer muito. O pescador com cara de fome, dono de umas pernas que pareciam uns paus de virar tripas, como se costuma dizer, teve que ser ligeiro porque o animal de barbatanas estava capaz de lhe levar a cana de pesca para outras paragens. Teve que pedir ajudar à mulher: Ó mulher agarra aqui também que este gajo deve ser um cachalote”.
Era ver os dois a puxar para terra, o que o peixe ou lá o que era, a puxava para o rio. “Ó mulher tens aí o telemóvel? Liga para o teu pai e manda vir a junta de bois dele para vir tirar este puto deste peixe da água, que já me está a dar cabo da moleirinha”.
Eu, escondido atrás dos meus óculos escuros, tipo Alberto Santos, disfarçava olhando para o lado contrário, para o lado da ponte Duarte Pacheco, assobiando baixinho de contente, ao ver a dificuldade do lingrinhas em sacar do rio mais um bacoco de um peixe, que ainda não tinha percebido que anda por aí muita gente que faz da pesca um passatempo. Que anda por aí muita gente que se diverte com o mal dos outros, tal e qual os americanos quando estão em guerra, que gostam de se divertir, matando, ainda por cima à distância, e com sinais claros de pedofilia, uma vez que só se metem com seres muito mais pequenos que eles.
Não foi preciso entretanto, vir a junta de bois. O lingrinhas e a mulher lá conseguiram puxar a cana com o malfadado peixe na ponta da linha.
Era um peixe e pêras. Aquilo devia ser um achigã, com certeza. Devia medir quase meio metro. Um verdadeiro espectáculo.
Mas o melhor estava para vir.
Ao ser “desvinculado” do anzol, o centrarquídeo, sentindo que o seu tempo estava no fim, deu meia dúzia de piparotes, e, beneficiando da inclinação da “praia” fugiu para a água, não sem antes ter atirado uma barbatana de areia aos olhos do pescador, tal foi a tempestade que se levantou.
A este espectáculo para terminar em beleza, só faltou ao peixe de boca grande, já em águas seguras, vir à superfície, e, no meio de duas gargalhadas, virar-se para o pescador lingrinhas e dizer qualquer coisa como isto: “Vai-te embora ó pescador. Vai-te embora ó americano da treta. Só te metes com os pequenos, seu pedófilo. Mete-te com o Hezbollah seu trinca-espinhas de merda”.
Eu não disse que um dia destes o pescador lingrinhas, levava nas trombas quando lhe saísse um peixe de pêlo na venta? Ora aí está. Saiu-lhe um achigã. E o Achigã chigou-lhe...
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