06 fevereiro, 2007

A QUESTÃO DO ABORTO


Aborto é uma palavra feiíssima. Rima com torto e morto. Estou mais de acordo com a palavra aberto que rima com certo.

Falar do aborto não é fácil. É uma questão que mexe muito com as sensibilidades de cada um, seja homem ou mulher. E como se sabe as sensibilidades não são todas iguais.

Muitas delas andam mesmo ao sabor das suas conveniências.

Hoje é difícil falar de algo que não traga a sua dose de politização, a sua dose de partidarismo. Hoje fala-se muito em função da sua estrutura partidária. Se o meu partido diz sim ao aborto, logo eu voto sim nas urnas. Lá se vai o discernimento, lá se vai a independência, lá se vai a consciência, lá se vai a liberdade.

Toda a gente, mais ou menos, tem a sua ideologia. Eu tenho a minha. Posso não ter partido, mas tenho a minha forma de pensar, de agir longe de qualquer jugo partidário. Não tenho o costume de fazer política ou politiquice em cima de tudo e em cima de todos. Procuro por todos os meios ser eu próprio a exercer a minha liberdade de pensamento, logo de acção.

Eu sou de esquerda e nesta matéria de aborto, ser de esquerda é votar não à pergunta que é feita sobre a sua despenalização até às dez semanas, no próximo dia 11 de Fevereiro. Vou votar não e vou votar em consciência.

Ser de esquerda é estar preocupado com o futuro das próximas gerações. E com o aborto livre não sei se haverá futuras gerações. Ser de esquerda é estar preocupado com o encerramento de escolas e maternidades, por não haver gente suficiente. Ser de esquerda é não estar de acordo que se façam abortos no Serviço Nacional de Saúde, quando os problemas nesta matéria estão longe de atingir os mínimos positivos para as populações. Ser de esquerda é indignar-se com o encerramento de urgências de hospitais para poupar dinheiro e depois gastar-se milhões com o aborto apenas por opção da mulher?

O ministro da saúde, disse que tinha dinheiro suficiente para se fazer abortos. Que o guarde para premiar a natalidade que é disso que o país precisa, como se faz na Alemanha.

Eu penso que a discussão dos prós e contras sobre a despenalização do aborto, é feita já a partir do meio. É feita com o comboio em andamento. É feita a partir da gravidez de uma mulher. E uma gravidez também tem o seu antes, isto é, tem a sua causa. Antes de uma mulher engravidar houve lugar a uma relação sexual. E uma relação sexual pode ou não gerar uma vida humana. Depende do nosso comportamento. Desculpem lá, mas uma mulher hoje em dia só engravida se quiser. Hoje uma mulher só faz aborto, clandestino ou não, se quiser. Não estamos na pré história. Hoje há métodos anticoncepticionais que protegem uma mulher de passar as agruras de um aborto clandestino. Temos o método natural, que sendo um tanto complicado, tem que ver com o período fértil da mulher. Depois há a pílula, o preservativo e a pílula do dia seguinte. Esta última forma de evitar uma gravidez, veio resolver muitos problemas em relações sexuais ocasionais. Porque todos nós sabemos que ninguém é de ferro e uma química pode acontecer a qualquer um e quando menos se espera. Mas quem anda à chuva molha-se e por isso é que se fizeram os guarda chuvas.

A minha perspectiva nesta matéria, como se vê não, não é cristã, não é religiosa, não é católica. Longe disso. É humana e progressista. Nunca estaria ao lado de uma Igreja que estando preocupada com a defesa da vida, tenha proibido, através do papa João Paulo II, o uso do preservativo na África que levou e leva à morte de milhões de seres humanos, através da sida. A igreja católica nesta matéria, e em quase todas as outras, devia estar calada. A igreja católica não é referência para ninguém.

O que me dói, nesta questão do aborto, é eu votar igual a muita gente que só cheira a hipocrisia. Dói-me votar igual a essa padralhada e a um catolicismo que são e sempre foram um obstáculo ao conhecimento, à cultura e ao progresso. Conheço pessoas que vão votar não, que se manifestam a favor da vida, são a favor da pena de morte e aplaudiram o televisionamento do enforcamento de Saddam Hussein.

Claro que vou votar não, indignando-me com o Estado que opta pela situação mais fácil. De facto se houvesse espírito altruísta da sua parte, o aborto clandestino poderia deixar de ser um problema.

Claro que é muito mais simples, ajudar uma mulher a abortar do que lhe dar assistência social e apoios económicos para que possa ser mãe. Esta assistência social era bem possível.

Eu penso que não seria problemático para o Estado criar berçários e creches, empregar assistentes sociais ou promover o voluntariado. A possível aprovação do sim no referendo, vem impossibilitar definitivamente que a boa vontade emane do Estado.

Receio que a aprovação do aborto até às dez semanas, vá tornar-se um método “concepticida” livre, e só mesmo um Estado decadente o pode apoiar, quando ironia das ironias, se fala na necessidade de incentivar a natalidade.

Ninguém é a favor da penalização das mulheres. Mas por outro lado, também ninguém devia ser contra a natalidade.

Vou terminar dizendo que, para mim, ser a favor ou contra o aborto é uma questão de coerência.

Então se eu sou um defensor acérrimo de toda a espécie de animais, iria ser a favor da destruição de vidas humanas que se preparam para aparecer neste mundo, um mundo de que toda a gente não quer sair. Então se eu estou preocupado com a provável extinção de muitas espécies de animais, como o lince, a raposa, o lobo, a águia, a cegonha, etc., eu iria votar a favor da extinção de pessoas? Não. Não faz sentido. Pelo menos para mim.

Uma nota final para manifestar uma grande preocupação:

Como não posso estar preocupado com a natalidade e com o futuro das gerações, se em 2102, o meu bisneto de nome João Luís Beça Moreira de 65 anos de idade, não tem direito a uma reforma, simplesmente porque não houve gente suficiente que trabalhasse e descontasse como ele para a segurança social?

Desculpem lá, mas não vou por aí.


1 Comments:

At 4:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

um misógino a falar de aborto. essa é boa

 

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