21 abril, 2008

INSTANTES DA LUZ - Camille Pissarro


PONTE ROYAL

Paris amanhece com olhos de insónia.
O rio Sena apercebe-se dos tons azuis-esverdeados
de uma manhã de Inverno.

Saboreia-se esta tela com a exaltação reivindicativa a roçar o transe,
tal é o seu cântico imortal das grandes obras.

A ponte debruça-se sobre o rio
à procura de uma névoa disponível para se esconder.
Esta desce persistente pelas árvores desfolhadas,
para escrever a sua realidade:
ganhar a vida namorando o Sena.
A cor local quase não existe.
é o ar a interpor-se entre nós e os objectos.
São rumores fiéis à natureza,
numa mensagem que se enquadra para além da tela.
A luminosidade é quase metálica, é um rumor do Louvre ao fundo,
capaz da suprema visão que nos acaricia o olhar.
O barco ancorado à margem ressona elevadíssimo torpor.
limita-se a beber o deslizar de outras embarcações
com destinos acantonados noutras tintas.

O pintor, está em constante transgressão.
Todos os sentidos apontam para a outra margem
em cumplicidade com as cores aplicadas.
Regressa mais tarde para outra alucinação.

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