12 outubro, 2007

DE NOVO OS PROFESSORES

Educação, cultura e cidadania

Tenho tanta pena deles, dos professores, que até me comovo. Não há lenços de papel que cheguem para tanta humidade. Choro copiosamente por eles. Muito mais que um dia de chuva num outono de Londres.

Agora é preciso acarinhar os professores, disse o professor Cavaco Silva, no passado dia 5 de Outubro. Tadinhos que estão a precisar de uns miminhos.

Cavaco falou assim, porque ele também foi professor e sabe do que a casa gasta. Tem uma relação muito afectiva com aqueles que na minha opinião são os que têm maiores responsabilidades no estado a que chegou o ensino em Portugal. Cavaco gosta dos professores e os professores gostam de Cavaco. Pudera, foi no consulado cavaquista que os professores se encheram de dinheiro, com actualizações de ordenados e masjestosos retroactivos. Não se lembram? Foi um festim.

No dia das comemorações da queda da monarquia, Cavaco disse também que é preciso que os pais se envolvam mais na educação dos seus filhos. Que a educação deve começar em casa.
Eu até acho muito bem. Eu acho que de facto os pais devem dar mais atenção aos seus filhos, porque a educação começa de facto da estrutura familiar. Mas toda a gente sabe que nas sociedades modernas, os pais cada vez têm menos tempo para educar os seus filhos. Trabalham os dois, muitas vezes longe dos seus lares. E chegam a casa em horas impróprias de consumo. Toda a gente sabe disso. Portanto fico na dúvida se Cavaco sabe do que fala.

Mas a ser assim, podemos começar com os casais de professores. Se numa casa houver pai e mãe professores, eu aconselho a que um deles fique em casa para dar educação os seus filhos. Não é assim? Até liberta mais um posto de trabalho para um outro professor que esteja desempregado.
Mas esta história levanta uma outra questão: então para que servem as creches, os infantários, ou os jardins-escola? Não serão precisamente para suprir estas dificuldades ao nível da educação das crianças?
O argumento de Cavaco Silva, para além de rebuscado e estafado, não colhe. O senhor professor apenas quis dar uma picadela a Sócrates. Veio proteger os professores, tão desamparados eles andam. E depois, eu só gostava de saber quem educou os filhos do Sr. presidente da República enquanto este estudou em Inglaterra.

Cavaco não quis reforçar a ideia, acho que justa de Sócrates em submeter os professores a exames de aptidão à carreira docente. Cavaco também não aplaudiu as avaliações a que estão sujeitos os senhores professores, avaliações essas que, quanto a mim só pecam por tardias.
Tal como os professores, se calhar o professor Cavaco gostaria que tudo ficasse como estava, ou seja: bagunça, forrobodó e regabofe. Enfim uma espécie de Jardim da Celeste, com a bandeira da diversão a sacudir belas contas bancárias nas cadernetas de cada um.

Cavaco não estendeu a sua intervenção para o ridículo que é a existência de dezenas de sindicatos de professores, com centenas de sindicalistas, que de tanto se estorvarem uns aos outros, correm o risco de se despenharem da tal plataforma. Uma plataforma que, pergunta-se, vive à custa de quem? E faz o quê? Apenas se perfila para aparecer na televisão a reclamar direitos, dizem, adquiridos. Isso Cavaco não disse. Isso Cavaco Não vê.
Isto só vem confirmar que o cavaquismo foi uma grande dor de cabeça para este país.

Tenho para mim, e ninguém me tira da cabeça e até prova em contrário que, atendendo aos resultados que têm aparecido na comunicação social, acerca do aproveitamento escolar dos alunos, os professores não merecem os ordenados que têm, nem de perto, nem de longe. O país anda a desgraçar orçamentos fabulosos numa educação que nos envergonha.
E quem são os responsáveis? Devem ser os pais que não ligam nenhuma à vida escolar dos filhos, que apenas fazem das escolas um depósito de crianças. Para mim, a culpa maior vai para aqueles que se acham superiores aos demais cidadãos, julgando que têm um rei na barriga. Só que isso já foi. Foi no tempo da “monarquia” que terminou em 25 de Abril de 1974. Foi no tempo do “botas”, do ditador, que caiu da cadeira levando consigo o prior e o regedor.

Se não existem carências quanto aos número de professores, há muita carência nos professores. Eles são carentes de pelo menos três coisas fundamentos para o bom funcionamento de uma sociedade: educação, cultura e cidadania. Eles dominam mal estes pilares que servem de alicerces na edificação de um país culto, moderno e desenvolvido. É a estas três estruturantes árvores que eles não conseguem subir. Subiam sim, se os frutos fossem mais dois ou três escalões nas suas carreiras. Trepavam logo, não precisavam de atirar pedras.

Eu posso ser acusado de estar a generalizar, e que devia saber que há bons e maus professores, como há bons e maus profissionais em qualquer ramo de actividade. Engano. Aí é que está o cerne da questão. A par de outras actividades profissionais como a medicina, por exemplo, não pode, não deve haver maus professores. Só tem de haver bons professores, como só pode haver só bons médicos. Só pode ser assim.

Ao contrário de alfaiates, picheleiros, carpinteiros ou trolhas, por exemplo, em que se um fizer um fato mal feito, outro deixar uma torneira a pingar, o terceiro fazer uma mesa com uma perna mais curta que as outras e o quarto pintar mal uma parede, tudo tem solução, não vindo daí grande mal à sociedade. Mas perante os erros ou incompetências de um mau professor, ou de um mau médico, as consequências podem ser devastadoras.

É por isso que o país tem de ser mais exigente e rigoroso na aquisição destes profissionais da educação, para que os índices de iliteracia, de abandono e insucesso escolares desçam, para que Portugal suba de escalão na União Europeia.

As escolas, o ensino, a educação, o país não podem ficar sujeitos a este atropelos a um bom funcionamento de uma sociedade que se quer melhor, já que não as há perfeitas.

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