FALAR DE POMBAS
O BRASÃO DA CIDADE
E AS POMBAS DE PENAFIEL
Um dia destes à noite, por volta das nove horas, um pequeno grupo de penafidelenses, armou semelhante chinfrineira à porta do Café da Sociedade, que nem a fanfarra dos bombeiros em dia de ensaio.
Que o (Soco)lari não devia ser castigado, porque nem sequer tocou no cabelo do jogador sérvio. Porque o rosto da Caixa Geral de Depósitos foi o treinador que mais feitos conseguiu para o nosso país, que foi único que conseguiu unir os portugueses em redor de uma causa justa e nobre. Que até mudou o rumo da História de Portugal, tendo sido inclusive, um dos maiores vendedores de relógios que o país algum dia conheceu.
Patati, patatá e a discussão não mudava de tom, não fossem alguns transeuntes na Praça Municipal, estarem de nariz no ar, boca aberta e olhos arregalados em direcção à parte superior do edifício da Câmara Municipal de Penafiel.
O que é que se passa ali, que estão todos a olhar para a Câmara? perguntou o Germano, um dos chinfrineiros e adepto religioso do tal treinador/pugilista brasileiro. Vamos lá ver de que se trata. E, perna à frente da outra, lá foram todos ver o que é que se passava.
É uma rede para proteger o brasão do município, da sujidade das pombas, disse o Berto, mais ou menos bem informado. Isto é uma praga do c..., é preciso acabar com esta m..., rugiu o Lopes. Olha para este passeio todo borrado, todo sujo, fuzilou o Pipas, dando razão à Câmara, por esta ter colocado aquele sistema protector. Pois é, dão-lhe de comer, depois nunca mais saem daqui, alvitrou o meia-leca do Carlos.
Uma vez, uma cagadela de pomba acertou-me em cheio nos sapatos. O que me valeu, é que eles eram de verniz e saiu tudo, disse rindo-se o Queirós. A mim foi pior, tossiu o Sousa, envolto numa nuvem de fumo do seu próprio cigarro: Há anos, estava eu todo bem encanado, para ir tirar duas, com a minha plébia, quando uma pomba em voo rasante, fez de mim uma retrete e deu cabo da minha camisa Triple Marfel, novinha em folha e que me custou passou de 500 paus.
Bom, pareciam estar todos de acordo quanto à necessidade de exterminar as pombas que esvoaçam pela zona da Misericórdia. Que elas dão cabo de tudo. A que a acidez dos seus detritos, desgasta onde quer que caia e depois pior que isso, são um perigo para a saúde pública, ponto final, parágrafo.
Entretanto, o Zé que também fazia parte do grupo do solheiro, e que até então nada tinha dito, parecia não afinar pelo mesmo diapasão. Então desalinhou: Para mim, brancas, azuis, ou pardas, as pombas são o símbolo da paz. Se estão com tanta vontade de as exterminar, façam-lhe guerra. E, como para grandes males, grandes remédios, acho que deviam ir ter com o Bush, a ver se vos cede algumas armas de destruição maciça, que foi buscar ao Iraque. Era a matança química. Era uma limpeza ética. Ou então vão aos Estados Unidos contratar meia dúzia de “Snypers”. Seria menos limpo, mas com o tiroteio era uma festa. Colocados os atiradores especiais, em pontos estratégicos da zona, como a torre da Igreja da Misericórdia, o quinto andar da PT, o telhado do quiosque, a janela do João da Lixa, o pináculo da chafariz, a varanda da Câmara e lá vai disto: pimba, lá foi pomba, pumba lá foi pombo, e assim acaba-se de vez com a raça, que anda aqui a conspurcar, a fazer estragos irreparáveis na zona histórica da cidade e na cabeça de algumas pessoas.
E o desalinhado Zé, visivelmente agastado com o rumo que a conversa tinha levado, mas com a corda toda, continuou: esta malta anda muito preocupada com a destruição que as pombas podem provocar. Tenham mas é juízo. Por acaso, vocês sabem quem é o maior destruidor da terra? Sabem por ventura quem é que causa efeitos mais devastadores na natureza? Não sabem. Porque se soubessem, não estavam com essa cara de intelectual obrigado a ver um concerto do Tony Carreira.
Fiquem vocês a saber, seus pedaços de ozono, seus efeitos de estufa, seus monóxidos de carbono, seus raios ultra-violeta, que é o homem, o maior predador, o maior destruidor do planeta.
Por acaso os Srs. licenciados em letra, sabem quem foi que destruiu em Penafiel o Cine-Teatro S. Martinho? Não foi o homem, foram as pombas naturalmente. E quem destruiu a antiga Praça do Mercado? Não foi o homem, foram as pombas certamente. Quem desgastou a calçada à portuguesa dos passeios da cidade, que agora só se vê granito? Não foi o homem, foram as pombas evidentemente. Quem deitou abaixo o prédio dos Machadinhos? As pombas claramente. A capela da Quinta da Lagarteira em Guilhufe, vai mudar de local, vai ser deslocalizada para outro lugar para fugir da praga das pombas. Sempre as pombas. Essas desavergonhadas, que até fazem sexo sem recato e sem preservativo, mesmo em frente da Igreja da Misericórdia.
Dito isto, o Zé, o desalinhado, foi-se embora. O grupo do solheiro, voltou ao local do crime e à chinfrineira em volta de (Soco) lari, o tal treinador, que não perdeu o primeiro, mas conquistou com brilhantina, o segundo lugar no Euro/2004 em Lisboa.
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