FALAR PENAFIDELENSE
JUSTINO DO FUNDO
Uma referência do tamanho do mundo
E o pior aconteceu. Justino do Fundo foi-se embora. Justino “Teles” morreu no mesmo mês em que tinha nascido, Julho, há 74 anos. Apesar de ter sido “avisado” de que algo não estava bem com a sua saúde (parecia até perfeitamente recomposto do ligeiro AVC que tinha sofrido em Maio último), nada fazia prever este trágico desfecho. A notícia da sua morte, pegou de surpresa muito boa gente. A mim também. Não estava de facto a contar com o desaparecimento do Homem a quem Penafiel muito deve.
Devo dizer que eu tive uma relação de proximidade com Justino do Fundo. Privei com ele, de Março de 74, até Dezembro de 1983. Trabalhei com e para ele, ali no Largo da Ajuda, um pouco mais abaixo da sua residência. Dez anos deram para conhecer o Homem que mudou Penafiel. Dez anos deram para conhecer o Homem incorrupto, vertical, íntegro, bairrista, solidário e humanista. Se calhar o seu lado humano, poucos se deram ao luxo de conhecer.
Lembro-me de um episódio (entre tantos) que ilustra bem a sua forma de estar na vida.
Justino do Fundo, tinha um estabelecimento comercial ligado ao vestuário, como disse no Largo da Ajuda. Ele tinha um empregado de idade bastante avançada (mais de setenta anos) que nem sequer sabia ler. Questionado sobre a continuidade na loja, do seu idoso funcionário, Justino do Fundo respondia destra forma: Não vou encostar o homem, aos anos que aqui anda, não o vou mandar embora. Ainda lhe pode dar alguma coisa, e depois? Pior ou melhor, vamos andando e vamos vendo”. Mais, Justino do Fundo fez o que nunca vi alguém fazer. Continuou a pagar mensalmente o vencimento ao seu funcionário idoso, depois de este se ter ido embora por sua livre vontade. E não foi tão pouco tempo.
Mas foi na vida pública onde Justino do Fundo granjeou mais popularidade e melhor notoriedade. No desporto e posteriormente na política. No desporto esteve muitos anos ligado ao seu FC de Penafiel. Na política prestou um serviço meritório a Penafiel. Deixou obra feita, deixou marcas. Não é preciso fazer aqui o seu inventário. Toda a gente dele tem conhecimento. Só não vê quem não quer.
Ultimamente, alguns jornais falaram dele. Disseram que foi eleito presidente da câmara em 1983, 1986 e 1990. Errado. As primeiras eleições autárquicas aconteceram em 1976. Justino do Fundo foi eleito sucessivamente em 1982, 1985 e 1990. Deixou a presidência em finais de 1993. Assim é que está certo.
Em 9 de Março deste ano, publiquei um artigo de opinião num jornal de Penafiel, em que fazia referência, a partir de um lamiré de Adrião Cunha numa sessão da Assembleia Municipal, à eventual atribuição de uma medalha de ouro do concelho de Penafiel, dizendo mesmo que fazia todo o sentido, que só pecava por tardia.
E agora? Perante tanto tempo esquecido e votado a um injusto ostracismo pelos poderes políticos desta terra, o que vai fazer a Câmara Municipal de Penafiel? Vai fazer uma homenagem agora, depois de ter morrido? Vai atribuir-lhe uma medalha de ouro a título póstumo?
Como é que os políticos e os partidos (PS, PSD e CDS) desta terra se esqueceram de Justino “Teles”. Ele andava por aí vivinho do Fundo. Ingratidão e amnésia é o que há mais em Penafiel.
Durante anos e anos, a nossa edilidade foi condecorando, medalhando, homenageando sucessivos penafidelenses (?) por tute e meia, por dá cá aquela palha. Desde ciclistas ( ciclo-cross), motociclistas (moto-cross), a futebolistas e automobilistas de quinta categoria a cidadãos que foram distinguidos apenas por existirem, não faltaram medalhas (foge cão, que te fazem barão. Para onde se me fazem conde?).
Lembro-me de algumas recentes condecorações douradas, aprovadas pela Câmara e Assembleia Municipais de fazer sorrir de perplexidade o pior inimigo de Justino do Fundo, a saber: padre Belmiro Coelho da Silva, padre António Ferreira Baptista, padre José Joaquim Silva Leal, António Ferreira Alves, ex-presidente da Câmara, em cerimónias comemorativas da elevação de Penafiel a cidade. Comemorações essas que foram “inventadas” pelo homem que construiu o primeiro gimnodesportivo e as primeiras piscinas de Penafiel.
O que teriam feito aquelas individualidades em prol da nossa terra, mais que Justino do Fundo? Impossível comparar o que não tem comparação.
Eu, se fosse à família de Justino do Fundo, da Câmara Municipal de Penafiel, só aceitava um público pedido de desculpas. A autarquia ao longo dos últimos anos, pelo menos desde que ele abandonou a vida pública, teve tempo de sobra para se lembrar do homem que mais fez por Penafiel, desde o 25 de Abril de 1974.
Aliás atitude que ia de encontro do que pensava o próprio Justino do Fundo, que me confidenciou recentemente não precisar de medalhas, nem de homenagens: “a melhor medalha que me podiam dar, já me foi dada. Foi a ter tido a oportunidade de fazer o que fiz por Penafiel e pelos penafidelenses”.
Considero Justino do Fundo, e para terminar, um penafidelense ao nível de um António Guimarães (Antony), de um Abílio Miranda, de um Manuel Pedro Guedes, de um Rocha Melo, entre poucos outros. Considero Justino do Fundo, uma referência de Penafiel do tamanho do mundo.
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