27 dezembro, 2007

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE PENAFIEL

TERRA SEM ALMA

Não vou propriamente às sessões da Assembleia Municipal (AM) de Penafiel buscar pretextos para escrever qualquer texto. Mas que às vezes saio de lá com montes de ideias, lá isso saio. Vou lá mais para ver o que se vai discutindo, aprovando e aplaudindo pelos políticos da nossa praça.
E desta vez não fugi à regra. Na passada sexta feira, dia 21 de Dezembro, eu saí de mais uma reunião de deputados municipais com a barriga cheia de motivos para pôr em pantanas este blogue.
Mas o que mais me interessava realmente, era saber o que se ia dizer sobre a “obra do milénio”, mais conhecida por Shopping de Penafiel, muito badalado pelos jornais da região.

Gostaria de começar por dizer que a direita política penafidelense anda toda “inchada”. Os homens e mulheres da coligação”Penafiel Quer”, parecem gaios, parecem cucos, parecem pavões. Desde a novidade da vinda da Bracalândia para Penafiel, que a minha terra anda a esfregar as mãos de contentamento. Nunca vi tanta satisfação estampada no rosto de tanta gente. É congratulações e mais congratulações. É parabéns atrás de parabéns. Shopping para aqui, centro comercial para ali, novo estádio para acolá, bombas de gasolina e hotel não sei para onde. Enfim.

A este respeito, o deputado Alberto Clemente chega a dizer que se trata de desenvolvimento sustentado, na medida em que este empreendimento vai requalificar a zona em questão, promovendo emprego e riqueza em Penafiel. Já antes, Pedro Norberto já tinha rotulado tal investimento de obra marcante.

José Peixoto, penso que com os pés mais assentes na terra, perguntou para quem era o Centro Comercial de Novelas. E perguntou bem, tendo em conta que cada vez há menos pessoas e cada vez há mais shoppings na região.

Não sei que contas é que se fazem, quando se diz que no primeiro ano de funcionamento, o Centro Comercial da Senhora da Guia, vai receber cerca de seis milhões de visitantes. Phone-ix!!! Boas contas faz o preto, sem ofensa. Faz lembrar a Expo/98. Também contavam com muitos milhões de visitantes, mas depois, esses números não foram atingidos, nem de longe nem de perto. E se não fosse um mundial de futebol que se disputava na altura, o buraco ainda era maior. Um bocadinho de contenção fazia jeito.

Quanto aos milhares de empregos, faz lembrar o nosso amigo Sócrates, que também os prometeu e que o PSD de Marques Mendes antes, e Filipe Meneses agora, não se cansam de contestar.

Sousa Pinto na sua intervenção, alertou para o caos que se pode instalar na zona, que se for verdade tantos milhões rumarem a Novelas, pode ser o “bom e o bonito” em matéria de trânsito todos os fins de semana. Este deputado, lembrou ainda que os glutões devoram-se uns aos outros fazendo a analogia para a proliferação de catedrais de consumo em Penafiel.

Como disse o deputado Adrião Cunha, ser pessimista, é um direito cívico. Disse bem. Eu sou um deles. Não deito foguetes antes da festa. E penso mesmo que aquilo que vai nascer em Novelas, não é motivo de festa. Até pode ser um doce amargo. Queira deus, disse ainda o deputado da CDU, que se crie o mínimo de pobreza.

E o PDM? O PDM não previa para aquela zona a instalação apenas de equipamentos estruturantes? Ou serão estruturantes, obras como um estádio para um clube de futebol profissional, um Shopping, um Continente, uma bombas de gasolina? Estarei enganado, estarei!

A minha terra é um fenómeno. Pode não ter uma casa de espectáculos, mas vai ter um Shopping. Pode não ter uma, duas ou três grandes fábricas, mas vai ter dois estádios de futebol, para um clube que está em queda livre. Pode não ter uma verdadeira galeria de arte, mas vai ter muitas galerias de consumo. A minha terra pode não ter onde se ganhar dinheiro, mas vai ter com certeza onde o gastar…se o tiver.

A minha terra é um espectáculo. Está a ficar com um rosto mais sofisticado, muito preocupadinha com a imagem, mas cada vez tem menos alma. Pode ter matéria mas não tem essência. É mais de forma que de conteúdo. É mais do parecer do que do ser. E eu só tenha a lamentar.

A determinada altura da sessão da AM, o Dr. Alberto Clemente (ó Dr. Alberto Clemente, ainda tenho esperança de o ver descer do céu à terra), na dúvida de esta câmara, em matéria de obra feita, estar no bom caminho, disse mais ou menos isto: “os eleitores mostraram nas urnas o seu contentamento para com este executivo”. Olhe que não Sr. Dr., olhe que não. As coisa não são bem assim.

Se se levar os resultados das últimas eleições autárquicas a análises mais detalhadas, sem fazer qualquer exercício de engenharia eleitoral, vamos ver que a maioria dos eleitores, até nem votou em Alberto Santos (56.655 eleitores, para 27.592 votos na coligação de direita). Este executivo conquistou a maioria dos votantes e não dos eleitores, não obstando com isso a que mesmo assim, tivesse obtido toda a legitimidade para governar como obteve.

Que fique claro, Penafiel não votou maioritariamente na coligação “Penafiel Quer”. Os votantes é que determinaram tudo. Não é conhecido o que ia na cabeça dos eleitores que não foram às urnas. Pode-se tirar as ilações que se quiser. Mas esta é a realidade.

Para terminar, e voltando à AM, esta assembleia aprovou por maioria o Plano Plurianual de Investimentos, Grandes Opções de Plano e Orçamento da Receita e da Despesa. Aprovou também tudo o mais, incluindo a Derrama e o IMI para 2008.

2008, ano este que eu bem queria que fosse melhor. Mas não me parece. Não me parece graças aos políticos e à politiquice que se pratica nesta terra e neste país. Vai ser uma tristeza. Menos urgências e maternidades, mais Shoppings e Centros Comerciais de Desorçamento Familiar. Mas vamos ter calma, é só esperar mais 365 dias para ser uma alegria. Vai ser um pagode. Vai haver eleições e muitas inaugurações.
E pimba, lá vem o Toy, à festa lá vai o Zé…

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