03 dezembro, 2007

OS INIMIGOS DO POVO



Antes de mais, devo avisar que este texto é longo. Quem gostar de ler, lê. Quem não gostar muito de grandes leituras, ponha na beira do prato e vá ver bola, que é melhor para a tola. Então é assim:

Eu para falar da greve com que o país se confrontou na passada sexta-feira, dia 30 de Novembro, tenho que dizer que, por princípio sou a favor de um direito que vem consagrado na constituição.

Mas o que acontece é que fui contra esta greve, que foi realizada pelos funcionários públicos. E só por isso, já me rotularam de direita, de extrema direita, nazi, hitler, social fascista. Isto depois de já ter levado com mimos do género: misógino, imbecil, comuna, burro e de ter um cérebro do tamanho de uma ervilha. Eu, confesso, não me sabia detentor de tantos atributos.

Tendo sido de facto contra esta greve agora realizada, não quero dizer que seja contra esta forma de se lutar pelos direitos de quem trabalha. Eu próprio, já fiz greve.

Já fiz uma greve geral, em Fevereiro de 1982. Só que nesse tempo, quem fazia greve, eram os pobres. Eram os empregados do comércio, os têxteis, os metalúrgicos, os operários fabris, etc., etc.. Eram os trabalhadores de fato de macaco. Estas greves eram realmente justas.

Hoje quem faz greve? Hoje são os ricos, os “trabalhadores” de gravata e colarinho engomado. Quem faz greve hoje são os que acham que não estão bem com a vida que têm: magistrados, juízes, médicos, professores, enfermeiros e outros…

Eu nunca imaginei ver esta gente, que pouco ou nada faz, e muito ganha, fazer greve.


Estes são os grandes inimigos do povo e do país. Têm uma barriga enorme, com o seu umbigo bem à vista.

Eu não devo generalizar. Sei que há bons funcionários públicos. A título de exemplo, lembro de uma grande senhora (funcionária administrativa) no centro de saúde de Penafiel. Aquilo era um mimo. Se todos ou todas fossem assim, até dava gosto recorrer ao posto médico mais vezes. Lembro-me também de uma médica nas urgências do antigo hospital de Penafiel. Era uma morena. Deu-me uma injecção no rabiosque, que até fiquei apaixonado. Que delicadeza. Que educação. Que mãos. Que doçura. Assim até dá gosto a gente partir uma perna e ir lá a correr. Mas infelizmente, trata-se apenas de excepções e não de regras.

Mas quantos cidadãos neste país, terão estórias para contar sobre o não trabalho, ou mau trabalho, de médicos, de enfermeiros, de professores, ou simplesmente de funcionários de repartições de finanças, câmaras, segurança social, notários, justiça e por aí fora que são muitos, demais até. Uma verdadeira calamidade. Uma verdadeira tragédia. Havia com certeza, matéria para escrever uma autêntica antologia, uma verdadeira colectânea de contos fantásticos, com qualidade suficiente para concorrer a um prémio Fernando Pessoa.

Quantas vezes, se ouve dizer através da instalação sonora dos centros de saúde: O Sr. doutor tal e coisa, amanhã não vem. O Sr. doutor coisa e tal, está demorado. Ou então, um revoltado paciente desabafar: o meu médico, nem para mim olhou, quando lá fui à consulta, foi uma pressinha? Ou ainda, uma médica (eu vi, eu estava lá), dar um chuto no traseiro dos utentes e pô-los a correr pela porta fora do consultório a acabarem de se vestir nos corredor. Era sempre a aviar. Mas… se fosse no seu consultório particular, o doente, o paciente, já era um amor, uma jóia de gente, uma simpatia porque… bota para cá, quinze ou vinte contos de consulta. Ou não será assim? É com certeza.

E os professores? Quanto aos professores, eu já disse quase tudo em textos anteriores. Não me vou repetir. Mas vou acrescentar que, conheci professores, que davam a correr, mal e porcamente as suas aulas. Depois iam cobrar (isto há mais de vinte anos) dois contos à hora em explicações no Alvorada, ou no Imperial, par prepararem alunos, quantos deles, seus ex-alunos, para exames em Julho ou em Setembro.

E quem não conhece funcionário públicos arrogantes e mal criados. Quem não viveu ou presenciou situações como esta que se passou comigo nas finanças de Penafiel, que passo a contar sinteticamente: Tive um pequeno problema com o nome nos livros de facturação, referentes a uma actividade ligada aos jornais. Pois o Sr. funcionário com um rei na barriga, não esteve com meias medidas, pôs o volume de som no máximo, dizendo arrogantemente e mal educadamente, que eu andava a passar facturas falsas.

Imaginem, eu, que depois de me colarem na testa selos de fundamentalista islâmico, de extrema direita, comuna, nazi, hitler, social fascista, passei a ter mais um, o de falsário. Putinha que pariu. Com tanto selo, não tarda nada a fazer uma exposição de filatelia, ou então, com estas ideologias todas, como é que eu posso alimentar esperanças de me candidatar como independente à Junta de Freguesia de Penafiel? Nunquinha na vida.

Eu não sei os números da greve geral. Mas, se foi elevada a adesão, como dizem os sindicatos, vá lá, senhores funcionários públicos, façam mais uma ou duas greves (de preferência à sexta-feira, sim?), para que os milhões que o governo poupa nos vossos salários, sejam aplicados, não no TGV, não na OTA, mas numa prenda de Natal, aos sem-abrigo, aos deserdados da vida, aos pequenos e miseravelmente reformados, aos 200 mil esfomeados e aos dois milhões de cidadãos portugueses que vivem no limiar da pobreza. Sócrates e o país, estão a contar com o vosso grande espírito de solidariedade.

Quando falo da pobreza de uns, penso na riqueza escandalosa de outros. Conheço muitos (sempre os mesmos), políticos, professores, médicos, enfermeiros, magistrados e alta função pública, que se aposentaram com vencimentos superiores aos que auferiam quando estavam no activo. Encaixam de reforma centenas ou milhares de contos, catorze meses por ano.

Porque é que estes faustos reformados recebem 14 meses por ano? Eles não comem durante esses meses todos. Se neste país vivesse uma democracia autêntica, os 13.º e 14.º meses só seriam atribuídos a reformados com menos de 500/600 euros. Mais, ninguém devia ter direito a mais que uma reforma. Isto para não cheirar a enxofre e se respirar um país saudavelmente democrático.

Aposto que depois de lerem este artigo, vai haver quem me queira colar mais um selo na testa: o de invejoso. Desculpem lá, mas esse não mereço. Isto é uma questão de equidade, de justiça, de solidariedade, num país que aspira a ser um bom país.

Para terminar, que o texto já vai longo, eu queria perguntar: quem passou para a opinião pública a imagem de que os “funcionários públicos fazem nada e ganham muito”? Quem foi? Não fui eu, com certeza. Nem tu, provavelmente. Isto está na terceira pessoa do singular: eles. Foram eles próprios. Foi um estigma criado por eles. E esse fardo eles o vão carregar, até provarem o contrário.


Mas mesmo que o tenham eles estão-se a borrifar para o estigma. O que lhes interessa de facto, é que o graveto, os milhões lhes caia na sua conta bancária, para depois se porem na horizontal em Punta Cana, Caraíbas, Cuba ou República Dominicana. E o resto são cantigas.

São este os inimigos do povo. São estes os maiores entraves ao desenvolvimento de Portugal, um país de Shoppings, gerações de telemóveis, cartões de dívida, e muito bem posicionado na Europa quanto a futebol, iliteracia e incidência da sida.

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