27 maio, 2008

NO PAÍS DOS PAPA AÇORDAS


Nem o Bob Dylan deixaram em paz. Alguém lhe perguntou se estava na disposição de animar musicalmente aquela empurradela do autocarro da selecção modelo, luso brasileira, até à Suiça? O quê? Não sabem que é o Bob Dylan? Está bem, eu digo-vos quem é. Sabem quem é o Tony Carreira? Pronto, não é nada parecido.

Estes dias todos os caminhos vão dar a Viseu. Todos. Não para ver o Museu Grão Vasco. Talvez o grão tasco. Grão por grão, só se for o de bico, com bacalhau do graúdo e pingoleta condizer.

Indo eles, indo eles a caminho de Viseu, para ver a selecção e não pra ver o museu. Indo eles para ver a selecção dos “portugueses” do outro lado do atlântico: o Scolari, o Murtosa, o Sheneider, o Deco e o Pepe. Todos a caminho de Viseu para ver o rei da bola e da Inglaterra. O rei dos muitos golos marcados, penaltes falhados, das revistas cor de rosa e das milhentas namoradas

O país, este, pode definhar, pode esmolar. Portugal pode passar fome. Os portugueses podem viver com menos de cinco euros por dia. Podem enriquecer os ricos, e empobrecer ainda mais os pobres. Pode-se ir a Cuba abrir os olhos de muita gente. Em Portugal pode subir a gasolina, pode subir o arroz, o leite, os cereais, mas as bandeiras e os cachecóis, esses agitam-se em bebedeiras de verde-encarnado. O país papaçorda, desperta, está alerta, agita-se. E grita-se bem alto em Viseu, “já lá vem o Rei naldo”.

Estouram foguetes no ar, e bichas de rabiar no chão. Sai a charanga da guarda republicana. Tudo canta tudo dança. Oh, afinal foi alarme falso. Não era o rei. Era uma japonesa pasteleira, de olhos em bico pelo Paulo Ferreira. Logo atrás vinha a confraria dos pimbas. Ei-los tão portugueses, tão janotas e tão patriotas. “Heróis do mar, pobre pobo…” À frente lá vem o Tony Carreira (muito gosto deste destino menino, estou sempre a falar dele, aquilo é um consolo para a alma). Tony Carreira, o tal que enfeitiçou Penafiel inteira e colocou um brilhozinho nos olhos do Adolfo de Mirandela, e que agora quer que os seus perseguidores-admiradores entrem com cachecol, para ouvirem as suas cantilenas. Depois vem o resto da família troupe, o Toy, o Mikael também Carreira, o Roberto Leal, o João Baião, o não sei quê Malato. Ei-los ali em Viseu, felizes da bola e da tola, digo eu. Viseu encheu pelas costuras de portugueses que tiveram de aprender um novo idioma: o ronaldez. Poucos verbos, muitas bolas.

As rapariguinhas de Shopping, que até faltam às aulas, ei-las pindéricas com as hormonas aos saltos e água a crescer-lhes na boca, com os 23 eróticos rapazes seleccionados ali presentes às voltas no estádio do Fontelo. Ei-las histéricas com os olhos esbugalhados cravados nos morenos, torneados, depilados e besuntados músculos do Cristiano, do Ronaldo, do Ronaldo, do Cristiano, do Cristiano e do Ronaldo, todos esplendores do Portugal dos pequeninos. Todos (os jigadores, porque as meninas, a essas basta-lhes um autógrafo rabiscado junto a uma mamoca, para atingirem o céu) Todos (os jigadores) a comerem á borla e à grande num hotel de dez ou vinte estrelas. “Eu hoje quero cherne com natas, e tu ó Quaresma, queres robalo à pescador? Não. Quero antes salada pascoal, a acompanhar uma garoupa com molho de gengibre”.

Quanto ao dito cujo, isto é, o seleccionador-ganhador-brasileiro-da-selecção de Pepe, Deco e C.ª Lda, o tal que já foi vendedor de relógios, o tal que diz que ninguém o apoiou quando quis ser vinicultor, o tal que gostava mais de carne do que de peixe, e que agora, graças a Deus, está a ficar mais barato aos cofres da federação , uma vez que já vai comendo uns carapauzitos grelhados com molho verde e umas petingas fritas com arroz de tomates, assinou há dias um contrato com uma instituição bancária do estado.

Não terá sido com certeza um contrato por dez reis de mel coado? Por isso, o grande amigo de Vítor Baía, não quer sair deste país, deste país da boca aberta, deste país dos três pês: pimba, parolo e pobre. Deste país que no passado era mais conhecido como um país de poetas, mas atendendo aos patos que somos, passou a ser um país de patetas. Portanto mais dois pês. Patos e patetas. Scolari sabe muito bem onde põe os pês, perdão os pés. Ele bem sabe o que vale um rei em terra de cegos. Depois dizem que o burro é ele.
Para terminar, só mais esta. Sabem quanto é que o “sargentão” (que para mim não passa de um cabo de esquadra) ganhou no ano de 2006, ano em que ficou fora do pódio do Mundial? 2,4 milhões de euros. Só. E a Caixa Geral de Depósitos com tanta peninha dele, coitado. Quem aforra é ele, com as suas poupanças, perdão papanças.

Já dizia o Jorge Palma “Ai Portugal, Portugal, de que é que estás à espera. Tens um pé numa galera e outro no fundo mar”.

Pronto, este foi um Fernan(dito), dos muitos que se seguirão.

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