30 maio, 2007

O PRÉMIO DANIEL FARIA

Já falei tantas vezes deste assunto, que corro o risco de estar a ser um tanto chato e se calhar algo inconveniente. Mas antes chato e inconveniente ser, do que andar com blá, blá, blá e nada dizer. Depois, quem não se sente, não é filho de grande penafidelense.

Precisamente no dia em que foi apresentado em Penafiel, o vencedor do prémio de poesia Daniel Faria, ou seja, no dia 18 deste mês do coração, tomei conhecimento de mais um prémio de poesia em Portugal. Trata-se do prémio de poesia Natércia Freire.
Este prémio instituído pela Câmara Municipal de Benavente, pretende desta forma homenagear uma sua poeta nascida naquela vila do distrito de Santarém.
Ao contrário do de Penafiel, que homenageia um poeta de fora do nosso concelho, o prémio de Benavente, não coarta a pena de ninguém que queira concorrer, pois ele é aberto a toda a gente deste país. Do seu regulamento, não faz parte a castrante frase “para menores de 35 anos”.
Não me cansarei nunca de chamar a atenção para este lapso cultural, esta tremenda injustiça cometida pela câmara de Penafiel, quando foi criado o prémio de poesia para homenagear Daniel Faria, um poeta que ainda hoje é praticamente desconhecido no nosso meio. Por isso é um tanto descabido e demasiada pretensão dizer-se, como foi dito na cerimónia de apresentação da obra vencedora deste ano, que Daniel faria é um dos maiores poetas do século XX. Caramba. Só diz isso quem pretende a todo o custo justificar o injustificável. É caso para eu pensar, para eu reflectir.
Como é que andei tanto tempo distraído? Como é que em tantos anos, nunca me chegou às mãos qualquer poema de Daniel Faria? Como é que tantas vezes eu fui à Feira do Livro no Porto, e nunca vi um livro que fosse do autor de Paredes?
Como é que andei tanto tempo distraído com os poemas de autores como: Eugénio de Andrade, Ramos Rosa, Al berto, Florbela, Sophia, Natália, Manuel Alegre, José Afonso, Fernando Tordo, Pedro Barroso, Jorge Letria, Joaquim Pessoa, Ary, Cesário, Craveirinha, Castro Alves, Drumond de Andrade, entre muitos outros de língua portuguesa. Como é que eu andei tão envolvido com a poesia de autores penafidelenses como: Alberto Ferreira da Silva, Amândio Santos, Rodrigo Leitão, Afonso Leal, Jorge Nunes Pereira, José Júlio, Joaquim de Araújo, António Madalena, Ferreira de Brito, Albano Morais, Duarte e Rodrigo Solano, Fausto Quintas, também entre muitos outros, e nem um único de Daniel Faria me passou pelos olhos? Como é que isso é possível? Onde é que eu estava para não dar por ele, pelo poeta paredense?
Acredito que a poesia de Daniel Faria tenha a sua qualidade. Acredito. Mas não posso dizer nada sobre ela. Não a conheço, nem a ela , nem ao autor.

Na cerimónia de apresentação do vencedor deste ano, notei que o Sr. presidente da câmara municipal de Penafiel, está tão à vontade a falar de Daniel Faria, que, quando a ele se refere, diz sempre a globalizante e legitimadora frase “estamos a homenagear um poeta da região”, quando podia dizer “estamos a homenagear um poeta de Paredes”. Alberto Santos não está à vontade nesta matéria. Nota-se. Tanto assim é que, na dita cerimónia, foi embora logo no seu princípio. O pretexto da assembleia do FC de Penafiel, caiu que nem canja, pois dessa forma, saiu de um local, onde não havia um homem ou mulher de letras de Penafiel a assistir a tão “importante” evento cultural. È verdade. É mesmo verdade. Tirando as pessoas de obrigação, como o próprio presidente, vereador de edilidade, jornalistas e directora da Biblioteca, o deserto penafidelense era total.
Ao contrário do que diz Alberto Santos, este prémio de poesia, não tem apenas algumas “incompreensões”. Tem muitas “incompreensões”. Tantas quantas as que não estavam no auditório da Biblioteca de Penafiel. Este prémio de poesia Daniel Faria não tem a simpatia dos penafidelenses ligados à cultura. Os penafidelenses das artes e das letras, não se identificam com o nome escolhido para tal desiderato poético. A ausência de penafidelenses na cerimónia de sexta feira à noite, mostrou muito bem isso.
A reforçar esta ideia, vem o que aconteceu no dia seguinte, sábado à tarde, no Museu Municipal de Penafiel, no evento dedicado ao Dia Internacional dos Museus. As forças vivas da cultura da nossa terra, estavam lá todas. Os intelectuais, pessoas da escrita, amantes das letras, homens e mulheres da cultura do nosso burgo, lá estavam de corpo e alma para homenagear o Dr. Rocha Melo, para presenciar as Artes do Ferro e as Memórias dos Moinhos do Rio Sousa. Acresce dizer, que foi uma grande jorna cultural, aquela que se viveu no “velho” museu, no dia 19 de Maio. Ficamos todos a saber mais, com as excelente intervenções do Dr. Miguel Veiga e da Dra. Teresa Soeiro.

Sr. presidente da Câmara Municipal de Penafiel, diga um só nome ligado à cultura penafidelense, que esteja de acordo com o nome atribuído ao prémio de poesia de Penafiel? Ah bom, mas o Tito Couto não é um homem de cultura e muito menos de Penafiel, embora me pareça ter sido ele o mentor, o impulsionador do dito prémio de poesia.

Eu disse neste texto que não me cansarei nunca de chamar a atenção para este lapso cultural, praticado pela câmara de Penafiel. Pensei melhor e resolvi não voltar a falar deste assunto. È chover no molhado. É demasiada incompreensão por parte do poder político, para com a poesia de Penafiel.
Aqui fica um soneto de autoria de António Leitão de S. Martinho de Recesinhos. Um penafidelense já falecido:


AS MINHA TRÊS AMANTES

Eu tenho três amantes, tão amantes,
Nas quais tão cegamente já confio
Que não sinto sequer um arrepio
De que um dia me sejam inconstantes.

No préstimo, são muito semelhantes,
Tão modesto, de todas é o feitio
Que sempre que as vou ver, vou de cotio,
E elas me acompanham radiantes...

Que são ricas e nobres, tudo o prova;
É sob a sua acção, rija e directa,
Que o mundo se abastece e se renova.

Não são Beatriz, Natércia ou Julieta;
Podem vê-las, enfim, a abrir-me a cova:
Chamam-se Enxada, Pá e Picareta!...

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