AS ONOMATOPEIAS
A professora Paula Medeiros fez um comentário a um texto que escrevi sobre os professores. Não sei qual o texto a que se referiu, porque foram vários os artigos em que tive oportunidade de dizer o que pensava de alguns (se calhar a maioria) dos professores que exercem tão digna actividade.
Ó Paula, em primeiro lugar obrigado por ter escrito sem ofender. É que eu recebo muitos comentários insultuosos, quase todos debaixo de uma cobardia atroz: o anonimato.
Eu não vou ser longo a comentar o seu comentário.
Eu não vou ser longo a comentar o seu comentário.
Tendo em linha de conta as já famosas dificuldades inerentes ao “baixo” salário de um professor em início de carreira, só lhe pergunto: Sabe quanto é que eu ganhava em início de carreira em 1960 com dez anos? Olhe a fortuna: dez tostões, duas croas por semana. Veja bem, nos primeiros tempos da minha actividade eu ganhava 40 tostões, ou oito croas por mês. Sabe quantas horas eu trabalhava por dia? Trabalhava quase meio dia, isto é, onze horas e meia por dia, com uma só para almoçar (08 / 13 e 14 / 20,30 horas).
Este festival de trabalho, foi no tempo em que um “trigo” custava $50, o mesmo que o célebre “quarto de sêmea”, um café no “Sociedade” custava 1$20, por um “balcão” no Cine-Teatro S. Martinho para ver “O Corcunda” do Jean Marais, pagava-se 4$00 e um pirolito 1$50.
Este festival de trabalho, foi no tempo em que um “trigo” custava $50, o mesmo que o célebre “quarto de sêmea”, um café no “Sociedade” custava 1$20, por um “balcão” no Cine-Teatro S. Martinho para ver “O Corcunda” do Jean Marais, pagava-se 4$00 e um pirolito 1$50.
Quer saber qual era a minha profissão? Era e é, tão digna como a de professor. Era uma profissão das antigas. Não tinha escalões, mas tinha muitas avaliações. Só se subia no ordenado por mérito próprio e muito e bom trabalho. Também “não havia” direito a Caixa de Previdência
Não estudei quando saí da escola primária. Fui logo “trabuquir”. Naquela altura, estudar era para ricos e o meu pai, precisava dos meus quarenta tostões, ou das minhas oito croas, para juntar aos escuditos que ele ganhava como sapateiro no número 73 da Travessa dos Fornos, ali atrás da Câmara Municipal, para pelo menos se comer um belo caldo de “olhos”, e ao domingo se poder comer um pouco melhor, talvez uns rabitos de bacalhau frito para dividir por oito “manfios” em volta de uma mesa.
Por favor não me venham falar de trabalhar e da “pobreza” de salário que vocês, profes, auferem em início de carreira.
Começo a ficar farto de tanta onomatopeia, vinda do lado dos professores, que coitadinhos ganham tão pouco e trabalham tão muito.
Começo a ficar farto de tanta onomatopeia, vinda do lado dos professores, que coitadinhos ganham tão pouco e trabalham tão muito.
Minha cara professora Paula Medeiros, não queria terminar sem deixar de lamentar os resultados obtidos pelos profes, numa recente sondagem sobre algumas actividades profissionais. É de facto muito preocupante que 58 por cento dos portugueses não confiem nos professores.
E eu não votei. Veja lá se eu votasse.
E eu não votei. Veja lá se eu votasse.
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