21 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - capítulo I



Dado que este texto é um pouco longo, eu vou colocá-lo neste blogue dividido em capítulos, dia sim e dia não, para não maçar os meus leitores que espero que sejam muitos e bons.

Capítulo I - A Surpresa


Foi num sábado de Maio de manhã, no Café da Sociedade, que pela primeira vez ouvi falar de “A Escrava de Córdova”. Um amigo perguntou-me: “Sabias que o Alberto Santos vai publicar um livro, um romance? Não, não sabia. E é sobre o quê? Parece-me que o tema anda à volta da problemática que envolve cristãos, judeus e árabes, na idade média, não sei mais nada para já”.

Fiquei surpreendido. Algum tempo passou. A confirmação veio depois nas “Notícias com rosto” do JN. E veio também a confirmação da minha surpresa. Surpresa até certo ponto. Porque escrever, escrever, toda a gente reconhece no nosso presidente da Câmara excelentes dotes. Eu já lhe conheço esta faceta há alguns anos, mais ou menos desde que está à frente dos destinos da urbe penafidelense. Sempre dei o devido e merecido relevo aos seus textos, aos seus discursos, quando tive o Jornal 3 de Março.

Não sou suspeito, e mesmo que o fosse era igual. Estou sempre à vontade para falar daquilo que me apetece. Ideologicamente estarei nos antípodas de Alberto Santos. Ele tem um partido político, e eu de partidos só quero é distância. Fui sempre um fã das suas intervenções, dos seus discursos, independentemente de concordar ou não com eles. Dos muitos que lhe ouvi, retenho um, talvez o melhor de sempre: “Alguns Paradoxos da Sociedade Portuguesa”, apresentado por alturas da comemoração do 32.º aniversário do 25 de Abril.
É este texto e um do escritor Mia Couto (de que falarei mais à frente) que guardo religiosamente.
Só que ao longo destes (ainda poucos) anos que conheço Alberto Santos nunca lhe vislumbrei qualquer afinidade, qualquer apetência para assuntos como os focados no seu livro. Alberto Santos nunca deu qualquer sinal de dominar esta temática, um tanto distante no tempo, bastante complexa embora apaixonante. Daí a minha surpresa. Daí a novidade. Boa surpresa e boa novidade.

Para começar, devo dizer que o título do livro devia ser “A Estrada de Córdova”. O Dr. Alberto Santos vai-me perdoar este trocadilho. Porque, e pelo que me apercebi, Ouroana não foi uma escrava qualquer. Quase não foi escrava. Não foi tratada como tal. Não foi obrigada a trabalhar, não foi colocada no mercado de escravos. Foi cativa, raptada duas vezes, dama de companhia, e pela sua beleza, foi amada e tratada como uma princesa.
Porque no que diz respeito a estradas, estas sim, iam todas dar a Córdova naquela altura. Ou não tivesse sido esta cidade a capital da Espanha muçulmana.

Pelo dito, já perceberam que eu já li “A Escrava de Córdova”. E perceberam muito bem. Passei alguns dias de “quarentena”. E só não foi de fio a pavio, porque pelo meio, não lia, escrevia.
Mas já há muito tempo que não experimentava um prazer destes, no que à literatura diz respeito.

Eu sei que estarão por aí milhares ou milhões de pessoas à espera da minha crítica, da minha opinião sobre o romance que veio “destabilizar” o panorama literário (para já penafidelense). Eu sei que a minha opinião é extremamente importante, que a minha análise crítica é fundamental, aqui no nosso meio cultural. Mas, ó senhores intelectuais, ó senhores literatos, ó senhores da letra, sosseguem a piriquita, tenham calma, já lá vamos. Que falta de paciência.

Claro que este texto tem um destinatário principal, que é o Dr. Alberto Santos. Só tenho uma dúvida: Não sei se o devo tratar por tu. Estava capaz de o fazer. Mas, é melhor não. Não estamos propriamente na Feira do Livro da Apadimp e, como soe dizer-se, não andou comigo na escola. Nem eu andei com ele na tropa
Já o meu pai, Vitorino Moreira, sapateiro de profissão no 73 da Travessa dos Fornos, dizia: “Rapaz, toma nota, o respeito é muito bonito, fica bem a toda a gente e cabe em todo o lado. Se me aparece aqui alguém a queixar-se de que tu foste malcriado, dou-te uma trepa de esmeril que te consolas.”

Quando Alberto Santos começou a frequentar a escola primária, já andava por aí a dar vivas ao 25 de Abril, a clamar morte à guerra colonial, a vibrar com o PREC, que hoje em dia é de bom tom diabolizar, e com os ouvidos sempre ávidos de sons vindos de Leonard Cohen, Bob Dylan, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, “Bee Gees”, entre muitos outros, uma vez que a oferta musical era muita, para nossa felicidade, os pós- adolescentes daquela altura.


(continua dia 23/07/08)

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