23 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - capítulo II


O LIVRO

Eu não vou entrar em comparações, nem incursões a outros livros de outros autores. Muito menos fazer grandes tiradas filosóficas sobre a “Escrava de Córdova”. Não sou crítico literário, nem tenho pretensões a tal. E depois não é crítico literário quem quer. Só o é quem sabe. E eu não sei. Embora eu sustente, que os melhores críticos às vezes, são aqueles cidadãos comuns que gostam de ler, como é o meu caso.

Para começar, devo dizer que há muito tempo que não leio um romance. Não sei como andam as modas em termos de literatura deste género. Autores como por exemplo, José Rodrigues dos Santos, Rodrigo Guedes de Carvalho, Júlio de Magalhães, Francisco José Viegas ou Miguel Sousa Tavares, que são os que estão mais na berra, passaram-me ao lado. Não tenho grande apetência para “calhamaços”.
Eu acho que não cheguei a ir até ao fim d` Os “Maias”, que era obrigatório ler no meu sétimo ano do curso complementar liceal. Mas é um grande livro, de um grande escritor. Eça é que é essa.

Nos últimos tempos, as minhas preferências literárias andam à volta da poesia, assim como leituras de revistas e jornais. Ou seja, leituras breves e mais mediáticas. Ainda não há muito tempo, acabei de ler o trabalho vencedor do Prémio Daniel Faria em poesia, de 2007. Nada mau. Prémio que como sabem, não apoio. Nada de confusões.

Só que no caso do livro de Alberto Santos, como fui picado pela abelha da surpresa, arranjei um antídoto chamado curiosidade, que é como quem diz: “deixa-me ler para crer”.

Sinceramente, e, como disse atrás, não me estava a ver passar uns dias de “calhamaço” nas mãos. Mas, “A Escrava de Córdova” era outra coisa. O autor era penafidelense. Depois, pelos “alertas” de alguns amigos: “o livro é bom” e “vale a pena ler”, juntando ao facto de alguma da acção ter como cenário a nossa Anégia, o nosso Mosteiro, entendi que estavam reunidos alguns bons ingredientes para a confecção de um bom caldo de literatura.

Comecei a lê-lo no dia do Solstício de Verão, com um som de Vivaldi a acariciar-me os ouvidos. E 467 páginas depois, já era dia da França, 14 de Julho. Dia de cantar a “Marselhesa”. Foi muito tempo, porque houve capítulos que tive de ler mais que uma vez.

Então, refeito da surpresa, com que Alberto Santos nos brindou a todos. Depois de ter lido o livro, o que é que se me oferece dizer sobre “A Escrava de Córdova?

Acho que a melhor forma de dizer se gostei ou não do romance, é escrever a palavra livro com letras maiúsculas: LIVRO. Nem mais. Porquê? Porque é um bom LIVRO. Para mim “A Escrava de Córdova” é um excelente LIVRO. Gostei sim senhor.
Tem páginas lindíssimas. Tem parágrafos espectaculares. Chegam a ser sublimes alguns capítulos desta história.

Vou enfatizar aqui alguns pontos que mais me tocaram:
A história de amor (entre Ouroana e Abdus) é lindíssima. O seu desenlace, embora trágico, é fantástico. Para mim é o grande momento do romance. É o momento mágico da estória. Ninguém está à espera das palavras de Múnio e Ermígio: “Toma esta por Ouroana! Morre por Ouroana!” e muito menos da pergunta que ficou sem resposta: “A que propósito estariam aqueles que o matavam a invocar o nome da sua amada? Eu acho isto simplesmente sublime! Gostei pelo inesperado. Fiquei muito sensibilizado com este belíssimo pedaço de literatura.

Fechei o lentamente o LIVRO. Faltaram-me as palavras para acabar estes ventos. Decidi então reter durante mais algum tempo este desfecho. Deixei-me estar assim nesta aresta de paz. Esperei vendavais de feição para me devolverem à voragem dos dias.


(continua dia 25/07/08)




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