A ESCRAVA DE CÓRDOVA - Capítulo III
A História
Eu quero dar relevo a um outro momento grande deste LIVRO. Tem a ver com a forma como o autor colocou a cativa Ouroana a evitar que as tropas de Almançor profanassem o sepulcro de Santiago na razia que fizeram em Compostela. Bem conseguido. Tiro o meu chapéu.
Como tiro o meu chapéu às belas “histórias da vida”, que o judeu Ben Jacob conta ao anégio e “atraso de vida” Ermígio.
Sobre os costumes mouros, o rabino divertia-se com o impressionado e embasbacado cristão: “como vês, - Não resisto em transcrever estes dois passos - aqui o povo toma banho e anda limpo. Diz-se até que os árabes prefeririam gastar a sua última moeda em sabão que num naco de pão. (…) Tomar banho? Nunca na sua vida se imaginaria a despir-se frente a outros homens e… lavar-se daquela maneira. Aliás, banho e água eram coisas que (Ermígio) só admitia na medida do estritamente necessário para uma higiene e que, até então nunca ninguém lhe ensinara serem muito importantes na vida”.
Através de Ben Jacob, Alberto Santos faz entrar portas adentro toda uma panóplia de conhecimentos sobre o modus vivendis de árabes e judeus, que não é demais salientar.
Tomaram muitos trabalhos sobre história, terem uma abordagem ao conflito inter-religioso entre árabes e cristãos tão simples, clara, directa, pormenorizada, como tem de facto este LIVRO de Alberto Santos. Quem o ler, sai mais rico, muito mais conhecedor de uma civilização muçulmana que teria aberto a boca de espanto a comunidade cristã.
Politicamente e ideologicamente o LIVRO é honesto e transparente. Cristão e católico como é, o autor não teve pejo em dar particular relevo, muito espaço e grande visibilidade aos ditos infiéis, à dita desenvolvida civilização árabe, que sendo assim, estava, séculos à frente do nosso cinzento, rural e monástico mundo cristão.
E porque um livro, é uma opinião (longa neste caso) que o autor tem sobre determinado assunto, Alberto Santos até podia “esconder” a evoluída civilização árabe. Pelo menos não lhe dar tanto ênfase. Não haveria nenhum cristão que se escandalizasse com isso. Podia romancear a história da forma que quisesse. Hoje em dia e a partir de 11 de Setembro de 2001, poucos são os europeus que morrem de amores pelo Islão. Não o fez. Não usou o guarda-chuva protector, onde tudo cabe. Resolveu e bem, brindar-nos com uma belíssima pintura, onde cada um pode, por si, fazer a leitura que quiser.
E porque o mundo cristão estava então muito atrasado em relação ao mundo árabe, não estou de acordo que o Dr. Coelho Ferreira, diga (fê-lo em 20 de Junho na Assembleia Municipal) , que este LIVRO era uma reconciliação com a Reconquista Cristã.
Na minha modesta opinião não é. Este LIVRO empurra-nos ao encontro de uma outra perspectiva. Empurra-nos precisamente para o seu contrário
Tendo em conta o atraso a todos os níveis, (e numa visão não muito profunda) que os cristãos tinham em relação aos muçulmanos, D. Afonso Henriques fez asneira ao levar a efeito a dita Reconquista Cristã (no nosso futuro território). Se calhar foi uma tragédia, na medida em que ao expulsar os ditos ricos mouros destas terras (de Coimbra para baixo) , o nosso primeiro rei fez mergulhar o nosso futuro Portugal, ainda mais fundo na tal obscura Idade Média.
Obscuridade essa que agravou o nosso atraso. Atraso esse que a par de pestes e guerras com Espanha, veio provocar a famigerada saga das conquistas (ditos descobrimentos) pelo mundo fora (matança, saque, pilhagem, escravatura e colonialismo) com alguns “almançores” de primeira linha à cabeça, como foram, por exemplo: alguns monarcas, o Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Francisco de Almeida, Afonso Albuquerque, Pedro Álvares Cabral, etc., etc.
Na minha perspectiva, a Idade Média portuguesa, com as suas trevas, o seu obscurantismo, prolongou-se, com intervalos filipinos e repúblicos, até ao 25 de Abril, que foi quando terminou a vergonha colonial portuguesa.
Aqui sim, aqui é que o nosso país experimentou dar os primeiros passos ao encontro da verdadeira Idade Moderna, do verdadeiro Renascimento.
Mas atenção, este LIVRO não me faz rejeitar o cristianismo, para aplaudir o mundo islâmico. Eu se calhar até sou de descendência judia. Descendente de Ben Jacob, sabe-se lá.
Não me custa nada reconhecer que as sociedades islâmicas, a partir de determinada altura, estagnaram, recuaram até, vítimas do fundamentalismo, da multiplicação de almançores, das Sharias e de teocracias sanguinárias, que se sucederam na condução dos seus destinos. Isso está à vista na maioria dos países islâmicos.
(continua 28/07/08)
Eu quero dar relevo a um outro momento grande deste LIVRO. Tem a ver com a forma como o autor colocou a cativa Ouroana a evitar que as tropas de Almançor profanassem o sepulcro de Santiago na razia que fizeram em Compostela. Bem conseguido. Tiro o meu chapéu.
Como tiro o meu chapéu às belas “histórias da vida”, que o judeu Ben Jacob conta ao anégio e “atraso de vida” Ermígio.
Sobre os costumes mouros, o rabino divertia-se com o impressionado e embasbacado cristão: “como vês, - Não resisto em transcrever estes dois passos - aqui o povo toma banho e anda limpo. Diz-se até que os árabes prefeririam gastar a sua última moeda em sabão que num naco de pão. (…) Tomar banho? Nunca na sua vida se imaginaria a despir-se frente a outros homens e… lavar-se daquela maneira. Aliás, banho e água eram coisas que (Ermígio) só admitia na medida do estritamente necessário para uma higiene e que, até então nunca ninguém lhe ensinara serem muito importantes na vida”.
Através de Ben Jacob, Alberto Santos faz entrar portas adentro toda uma panóplia de conhecimentos sobre o modus vivendis de árabes e judeus, que não é demais salientar.
Tomaram muitos trabalhos sobre história, terem uma abordagem ao conflito inter-religioso entre árabes e cristãos tão simples, clara, directa, pormenorizada, como tem de facto este LIVRO de Alberto Santos. Quem o ler, sai mais rico, muito mais conhecedor de uma civilização muçulmana que teria aberto a boca de espanto a comunidade cristã.
Politicamente e ideologicamente o LIVRO é honesto e transparente. Cristão e católico como é, o autor não teve pejo em dar particular relevo, muito espaço e grande visibilidade aos ditos infiéis, à dita desenvolvida civilização árabe, que sendo assim, estava, séculos à frente do nosso cinzento, rural e monástico mundo cristão.
E porque um livro, é uma opinião (longa neste caso) que o autor tem sobre determinado assunto, Alberto Santos até podia “esconder” a evoluída civilização árabe. Pelo menos não lhe dar tanto ênfase. Não haveria nenhum cristão que se escandalizasse com isso. Podia romancear a história da forma que quisesse. Hoje em dia e a partir de 11 de Setembro de 2001, poucos são os europeus que morrem de amores pelo Islão. Não o fez. Não usou o guarda-chuva protector, onde tudo cabe. Resolveu e bem, brindar-nos com uma belíssima pintura, onde cada um pode, por si, fazer a leitura que quiser.
E porque o mundo cristão estava então muito atrasado em relação ao mundo árabe, não estou de acordo que o Dr. Coelho Ferreira, diga (fê-lo em 20 de Junho na Assembleia Municipal) , que este LIVRO era uma reconciliação com a Reconquista Cristã.
Na minha modesta opinião não é. Este LIVRO empurra-nos ao encontro de uma outra perspectiva. Empurra-nos precisamente para o seu contrário
Tendo em conta o atraso a todos os níveis, (e numa visão não muito profunda) que os cristãos tinham em relação aos muçulmanos, D. Afonso Henriques fez asneira ao levar a efeito a dita Reconquista Cristã (no nosso futuro território). Se calhar foi uma tragédia, na medida em que ao expulsar os ditos ricos mouros destas terras (de Coimbra para baixo) , o nosso primeiro rei fez mergulhar o nosso futuro Portugal, ainda mais fundo na tal obscura Idade Média.
Obscuridade essa que agravou o nosso atraso. Atraso esse que a par de pestes e guerras com Espanha, veio provocar a famigerada saga das conquistas (ditos descobrimentos) pelo mundo fora (matança, saque, pilhagem, escravatura e colonialismo) com alguns “almançores” de primeira linha à cabeça, como foram, por exemplo: alguns monarcas, o Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Francisco de Almeida, Afonso Albuquerque, Pedro Álvares Cabral, etc., etc.
Na minha perspectiva, a Idade Média portuguesa, com as suas trevas, o seu obscurantismo, prolongou-se, com intervalos filipinos e repúblicos, até ao 25 de Abril, que foi quando terminou a vergonha colonial portuguesa.
Aqui sim, aqui é que o nosso país experimentou dar os primeiros passos ao encontro da verdadeira Idade Moderna, do verdadeiro Renascimento.
Mas atenção, este LIVRO não me faz rejeitar o cristianismo, para aplaudir o mundo islâmico. Eu se calhar até sou de descendência judia. Descendente de Ben Jacob, sabe-se lá.
Não me custa nada reconhecer que as sociedades islâmicas, a partir de determinada altura, estagnaram, recuaram até, vítimas do fundamentalismo, da multiplicação de almançores, das Sharias e de teocracias sanguinárias, que se sucederam na condução dos seus destinos. Isso está à vista na maioria dos países islâmicos.
(continua 28/07/08)
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