O VERÃO
“Como tudo que acaba / Como pedra rolando de uma fraga / Como fumo subindo no ar...”. Estes são alguns versos de “O Verão”, canção que Carlos Mendes levou à Eurovisão em 1968. O autor da letra, que não me lembro quem é, mas com certeza que devia gostar muito da estação estival. Naturalmente, como muito boa gente. Mas para mim ,o Verão é uma grandessíssima seca.
Eu sei que é no Verão que se gozam férias. Eu sei que é no Verão que as mulheres ficam mais bonitas. Que elas ficam mais atraentes com os fabulosos, garbosos e generosos decotes a descer até ao chão, e as saias e calções a subir até ao céu. Eu sei que sim! Mas... e o resto?
Cidades e cidades deste país à nora com falta de água. O país arde de calor, e o precioso líquido é uma miragem na quente paisagem, que o mesmo é dizer, que andamos há uma data de anos a pensar na morte da bezerra, e os espanhóis a fazerem barragens até dar com um pau, a prender a água que faz falta a tanta malta.
Os incêndios continuam a devastar matas, montes, florestas e vidas, (felizmente este ano, a coisa sossegou um pouco) sem que se aprove uma lei que obrigue à limpeza dos eventuais braseiros, e sem que a justiça tome medidas drásticas em relação aos pirómanos que vão sendo apanhados com os fósforos na mão.
É no Verão que a música “pimba” assalta tudo e todos com maiores frequências e audiências. Os Carreiras pai e filho, os Malhoas pai e filha, os Emanueis, os Toys, e por aí fora. Todos a facturar, via ignorância.
Não gosto do Verão também pelas temperaturas elevadas ao rubro, pela excessiva e despoetizada claridade dos dias, e claro... pelas touradas. As malditas touradas.
No Verão, a televisão, a rádio e os jornais fartam-se de publicitar aquilo que é sinónimo de obscurantismo cultural. É touradas por todo o lado. Não entendo, como é que, numa altura em que há (pelo menos parece haver) uma maior sensibilidade para com a defesa dos animais, e para repudiar essa “coisa” das arenas com sangue lá dentro, cada vez há mais touradas. A televisão (RTP especialmente), coitada, preocupada com as minorias de aficionados e audiências tauromáquicas, (menos de 7 por cento de quem vê televisão) transmite todas as semanas “faenas” e corridas de touros em horários nobres e ainda por cima sem o obrigatório círculo no canto superior direito do écran. Um serviço público que envergonha o bom senso. Porque é que as televisões no Verão, não se preocupam com as outras minorias? Com aquelas que gostam de por exemplo, de bailado, de teatro ou de ópera? Não tem dinheiro. Não tem verba para apostar no “supérfluo”.
É por estas e por outras que eu não gosto nada do Verão. Por isso não posso trautear como gostava a tal canção do Carlos Mendes, quando ela diz: “... O Verão já terminou / foi um sonho que findou / Não interessa mais pensar...”.