24 janeiro, 2007

NOTAS À SOLTA EM PENAFIEL

O PARQUE DE ESTACIONAMENTO

Devo dizer que não gosto de pintura surrealista. Não gosto de Salvador Dali. Os meus gostos andam por outro lado. Mas engraçado, a pintura impressionista que é a que eu mais admiro, para vê-la terei de ir por exemplo ao Museu D´ Orsay, em Paris, e a corrente pictórica surrealista, aparece-me frequentemente à frente dos meus olhos aqui mesmo em Penafiel.
Querem ver um quadro surreal? Então vão até ao local onde funcionou o cinema Cine Teatro S. Martinho. Está lá há algum tempo três mamarrachinhos coloridos a embelezar aquela exposição de carros de carácter permanente, sem encerramento à vista.
Foi nisto que se transformou o antigo cinema. Um parque de estacionamento com três pontos de deposição de lixo. Tudo isto bem no centro da cidade.
Ó Dr. Antonino de Sousa, digníssimo vereador do Ambiente, aquilo é de bradar aos céus. Aquele espaço sem os tais contentores já era deplorável, agora com eles... é verde... escarro na parede.


A SUJIDADE À VOLTA DA CÂMARA


Outra nota. Esta já tem barbas. Barbas bem maiores do que as do Dr. José Pinto da Costa. Esta tem a ver com a sujidade em volta do edifício da Câmara Municipal de Penafiel. Tudo sujo. Não entendo porque razão ninguém vê aquilo. O lado direito de quem entra no edifício é uma calamidade. As senhoras da limpeza por falta de olhinhos e de brio profissional, só limpam a ponta do nariz, que o mesmo é dizer, só limpam as duas ou três escadas. O resto fica a acumular-se pelo tempo fora. Uma vergonha à volta da Câmara. Eu pelo menos tenho vergonha. Dá vontade de pegar numa mangueira e fazer eu próprio uma barrela àquilo e chamar depois quem de direito e dizer-lhe que as coisas menos estruturantes, também são gente.
Sr. Dr. Antonino de Sousa, devo dizer que a nossa cidade anda a atravessar uma crise de limpeza. Nunca a vi tão suja.
Isto é verdade, não é publicidade...

22 janeiro, 2007

JORNAL 3 DE MARÇO - Opinião

O NOSSO EMBAIXADOR

Não é preciso ir ao dicionário para se saber o que quer dizer a palavra embaixador. Até mais humilde e comum cidadão sabe que um embaixador é mais ou menos alguém que melhor representa, que melhor divulga, que leva mais longe o nome do nosso canto, da nossa terra, do nosso país, aos confins do planeta.

E aqui em Penafiel pensa-se que é o clube local de futebol, quem faz tudo isto. Aqui em Penafiel, diz-se com alguma frequência, que o nosso maior embaixador é o FC de Penafiel. Pelo menos o nosso Presidente da Câmara Municipal, Dr. Alberto Santos ( e atenção, que a oposição socialista assina por baixo) di-lo com alguma insistência. Claro que é uma tentativa de legitimar, de justificar aquelas absurdas e chorudas verbas que para lá são canalizadas. Dinheiros públicos que vão aquecer os bolsos de uma equipa de “mancos”. Por isso é que para mim, é uma tremenda injustiça estar a subsidiar o futebol para “Sentir Penafiel”.

Eu já estou cansado de falar deste assunto. Já o faço há muito tempo. Já me oponho a estes desvarios, a estes “crimes” desde o tempo em que a nossa edilidade era conhecida lá fora e cá dentro, por “Câmara Futebol Clube”. Hoje é “Futebol Municipal de Penafiel”.

Se o Sr. Presidente da Câmara, Dr. Alberto Santos, acha que o FC de Penafiel, é o nosso maior embaixador, eu não acho. E digo porquê. Primeiro, não é com as camisolas de jogadores de futebol estrangeiros que se vai “Sentir Penafiel”. Depois há outras instituições, outras agremiações, outras associações penafidelenses que muito melhor e mais vezes levam o nome da nossa terra aos quatro cantos do mundo. Não estou a falar da Quinta Aveleda, ou dos seus produtos. Nem de outras instituições, que estão de longe, bem à frente do clube que no ano passado desceu de divisão de forma vergonhosa. Eu estou a falar de um jornalista que graças ao seu trabalho no “Jornal de Notícias”, está a divulgar lindamente a nossa terra.
Estou a falar do jornalista José Vinha.

José Vinha conseguiu recolocar o nome de Penafiel nas páginas do JN (trabalho que não vinha sendo conseguido, nem de longe nem de perto, pelo seu antecessor, que foi uma tragédia). José Vinha conseguiu voltar a colocar Penafiel no mapa. E com isso conseguiu levar a todo o mundo o conhecimento das nossas riquezas, da nossa cultura e da nossa sociedade de A a Z, isto é, de Abragão a Urrô. José Vinha conseguiu levar, por exemplo à Austrália, ao Japão, aos Estados Unidos, à China, ao Brasil, etc., penafidelidades como: a última fase da construção do Museu Municipal de Penafiel, a inauguração do auditório no Pavilhão das Feiras, a Bienal de Pintura, a recente conquista da bandeira das acessibilidades, a entrada em funcionamento da mais importante das rotundas de Penafiel (a do Alberto Pinto), o estacionamento subterrâneo ao futuro Museu, a vida de instituições como a APADIMP, os Bombeiros, ou a Santa Casa da Misericórdia, festas e feiras como a do Corpo de Deus, o S. Martinho e a Agrival. E muitas outras coisas positivas (também algumas menos positivas, claro) que na nossa terra vão acontecendo. Ele, José Vinha, é de facto uma instituição, logo é o nosso maior embaixador.

Por isso e mais uma vez, eu digo que o FC de Penafiel, não é, nem merece ter aquele estatuto. Portanto, não merece levar a fortuna que a Câmara lhe dá de mão beijada.

Uma palavra final para o José Vinha. Queria pedir-lhe desculpa por falar de si, sem o seu consentimento e conhecimento. Eu falei no seu nome porque creio que é de inteira justiça reconhecer o seu trabalho no JN, no melhor jornal diário português.

O TROCA LETRAS

É troca letras como poderia ser troca tintas, ou até troca tudo, dado o seu gosto por baralhar, misturar e trocar as voltas a muita coisa que tem a mania de andar toda direitinha, só para parecer bem.
Hoje troquei as voltas a alguns provérbios, para ver no que dava. E não deu nada que se visse. Por isso mesmo aqui está o resultado, aliás, o resultadão.

Há pessoas que não sabem, mas...

Quem não arrisca, não é filho de boa gente...
Vozes de burro, não pagam dívidas...
Enquanto o pau vai e vem, todos os santos ajudam...
Quem semeia ventos, ilumina duas vezes...
Candeia que vai à frente, é a alma do negócio...
Depois da tempestade, meia palavra basta...
Casa onde não há pão, todos os gatos são pardos...
Mais vale só, que dois a voar...
O fruto proibido, dá saúde e faz crescer...
Ladrão que rouba a ladrão, anda de candeias às avessas...
Quem desdenha, não é gago...
Cão que ladra, anda mouro na costa...
Para bom entendedor, trancas à porta...
Quem corre por gosto, ao inferno vai parar...
Com papas e bolos, não se limpam armas...
Depois de casa roubada, não acaba a Primavera...
É pior a emenda, que mal acompanhado...
Quem dá aos pobres, ou é burro ou não tem arte...
Entre marido e mulher, há ir e voltar...
Depressa e bem, tem cem anos de perdão...

E por agora é tudo porque...
Quem muito fala, a mais não é obrigado...

18 janeiro, 2007

JORNAL 3 DE MARÇO - Poesia

ENCONTRO COM A POESIA
Penafiel à vista

Em Agosto de 2084, comemora-se o 1.º centenário do início da minha actividade como poeta. Por isso não será demais começar desde já a festejar tal acontecimento. E nada melhor que publicar neste blogue uns quantos poemas sobre a minha cidade de Penafiel. Sobre a minha irreconhecível cidade de Penafiel.
Então é assim:

Deambulei urbanamente sozinho
e sempre de costas voltadas para coisas
que no passado eram ruas.
Fiquei-me pelas luzes da lua
que são um pouco da minha rua, onde moro e descanso.
Mas um dia destes
nem aquela travessa se atravessa no meu caminho.
Terá sido engolida, violada por espelhos
que julguei não existirem.
Nunca pensei.


Durante anos
vivi e revivi o riso admirável desta terra.
Descobri depois a inversão
daquela admirável palavra.
Choro alguns pedaços despedaçados
por ousadias negras e cruéis papéis.
Tudo por aí... à mostra.


Vou ao café
tentar ver Penafiel mais perto.
Mas não recebo o mínimo sinal
de que esta cidade se possa beber de um só trago.
É dura de roer.
Tem pedra a mais
por isso já não recito versos encostado a uma árvore.
Limito-me a apunhalar as folhas
por elas terem caído em forma de granito.
O sol negro aplaudiu
a chuva branca fez-me muita falta.
E fico doente... por não poder ficar doente.


Sorvo o ar desta terra logo pela manhã.
Sabe-me a lixo de véspera.
Só espero que uma dúzia de pombas
apanhe o voo de umas tantas horas escritas no vento.
para não caírem em desgraça.
Não há barcos na Praça Municipal
mas há água que chegue para afogar vaidades indecentes.


Aquele Café Bar
deu um salto para trás.
E agora?
Hoje tudo anda para a frente
menos o belo, o bonito
e o bem estar que vem do sol.
E o lápis preto
traça-me ventos e gravuras negras.
Não se passa nada naquela tela.
Só corvos se preparam
para chafurdar naquela praça da minha terra.


E agora?
O que vou fazer com este chão
aqui nesta cidade
nestas margens de rua?
Nada.
A menos que o devolva à rapaziada
para se rir um bocado.
Mas antes disso
tire-se umas quantas fotocópias
não vão as pedras gostarem da festa.


Perguntaram-me um dia
Se eu gostava da minha terra.
Eu disse que não gostava de Penafiel
porque gostava até à exaustão da minha cidade.
A ver se a gente se entende.
Gostar muito é gostar nem um pouco.
Sou um corpo fora do meu corpo
por isso é que a minha cidade rejubila
quando entro em desacordo com ela.
Somos gémeos e ninguém sabe disso.


Lembro-me da esplanada do Café Bar
em plena Praça Municipal
a roçar o monumento central.
Uma groselha, um café de doze tostões
com a possibilidade de dois dedos de televisão.
Éramos todos poetas, éramos todos pintores
éramos todos amadores daqueles locais
anais do nosso bairrismo
pequeno que ele fosse
porque éramos crianças pequenas ... logo poemas.


Fico estático
diante desta terra, deste lar, deste canto.
Diante desta imensidão de ignorância.
não tenho coragem de passar
por entre esta floresta de árvores parolas.
Caio no vício de ter medo
que o mundo me mate
por ter aberto a boca de espanto.
Santo deus.


Azedou-se-me o pensamento
aqui, neste lugar e a esta hora.
só porque pensei que os arrogantes
podiam ser gente igual a tanta outra gente.
Mas não são, nem podiam ser.
Porque a arrogância
veste-se todos os dias de maneira diferente
e a nudez das coisas está ali à vista de todos
ancorada no seu gigantesco umbigo.


Serviram-se de Penafiel
para me atraiçoarem.
Foi uma traição de rua
apesar dos constantes avisos da lua
tramada em noites prenhes de sujidade.
Nem o nevoeiro que me ama sobre todas as coisas
chegou a tempo de me salvar desta tempestade em dó maior.
Ficou a vigorar um regime em dó menor
As flores que se cuidem.


Ontem Penafiel era um livro de poemas.
Hoje é um manual de figuras obscenas
grandes e pequenas.


Nunca entendi porque é que
menos por menos ... dá mais.

12 janeiro, 2007

DINHEIRO PARA O FUTEBOL

NÃO FALTA DINHEIRO... PARA O FUTEBOL

Mais 40 mil contos para o futebol. Mais duzentos mil euros para o maior embaixador do nosso concelho: o FC de Penafiel.
Esta verba, atribuída através de contrato de publicidade, foi aprovada pela Câmara Municipal de Penafiel, na sua última reunião.

Quem assim dá dinheiro para a bola é porque tem os cofres cheios, não tem problemas de nota, e por isso não tem que se lamentar por exemplo, de ter ficado de fora do famigerado Programa Líder.

Esta época já foram 100 mil contos para a bola, contando os 60 mil que foram para o futebol juvenil. O regagbofe, a festa e o forobodó continuam.

Olhe Sr. Presidente da Câmara, Dr. Alberto Santos, por muito, muito, muito menos o Jornal 3 de Março foi ao ar e se calhar praticava um serviço público penafidelense, bem melhor que o FC de Penafiel. Com aquela nota toda, durante mais uma dúzia de anos o jornal continuaria a pôr os penafidelenses a falar, a dizer de sua justiça sobre a sua terra, para o bem ou para o mal.

Ainda quero saber se o PS votou a favor de semelhante proposta. Mas se assim aconteceu... ó Srs. Vereadores Nelson Correia, Nuno Peixoto e António França, eu não quero acreditar. Eu acho que ser de esquerda, é... se não sabem, deviam saber. Se votaram contra, desde já os meus aplausos.

Não entendo como se pode deitar fora tanto dinheiro, quando a empresa municipal “Penafiel Verde” pretende poupar uns cobres na facturação de dois em dois meses. Não entendo como pode esbanjar tanto dinheiro, quando a nossa Câmara contrai sucessivos empréstimos bancários. Não entendo como se pode dar tanto dinheiro de borla, a uns não sei quem, nem quantos, quando os penafidelenses têm a sua casa praticamente municipalizada, como muito bem disse o Dr. Sousa Pinto numa reunião da assembleia municipal, tantos são os impostos camarários.

Dar dinheiro ao futebol, é financiar “mancos”. É financiar uns quantos futebolistas que já têm um ordenado muito acima da média. Se calhar alguns ganham mais que Cavaco Silva ou José Sócrates.
Dar dinheiro ao futebol em nada contribui para o desenvolvimento da nossa terra. Dar dinheiro ao futebol é um mero contributo para a aculturação das nossa gentes. Felizmente que os estádios de futebol estão cada vez a ficar mais vazios.


Termino com uma simples quadra alusiva ao assunto:

Penafiel tem mais encanto
não quando se põe o sol.
Só abre a boca de espanto
à hora do futebol!

02 janeiro, 2007

JORNAL 3 DE MARÇO - Opinião

“TADINHOS” DOS PROFESSORES
carta aberta ao professor António França

Há tempos, um ex-professor, do alto da sua reforma milionária (digo milionária porque quem paga dez mil euros de IRS por ano, só pode estar a receber uma valente reforma), dizia que neste país há muita gente invejosa, que passa a vida a dizer mal de tudo e de todos, e que os pobres são pobres porque querem, que nada fizeram para não o serem.
Agora, um dia destes, numa conversa de café, o professor António França por quem nutro uma grande admiração e solidifico dia a dia uma amizade recente, disse a mesma coisa. Disse alto e bom som que esta gente do norte era cheia de inveja. Inveja esta que tinha a ver com os salários que os professores auferem.
Eu fiquei siderado com tal afirmação. Aliás logo na altura lhe fiz ver o meu desacordo. O que eu não sabia era que a malta do norte era assim tão invejosa.

Ó engenheiro António França, isto nem parece conversa de professores (havia mais um professor na nossa mesa). Isto nem parece conversa de gente que é suposto ter mais uns grãos de cultura acima do comum cidadão. E depois, o Sr. fala das pessoas do norte com tal desprezo, que nem parece ser natural de uma cidade do norte. Se acha que os nortenhos são assim tão mauzinhos, porque não vai dar aulas para o Alentejo ou para o Algarve? Pode ser que os sulistas não sofram dessa síndrome. Está à espera de quê. Força professor França, bora daí...

Olhe professor António França, sabe quem disse também que os portugueses são uma cambada de invejosos? Foi o supra sumo do jornalismo que é director do “Público”. Você sabe de quem estou a falar. Veja lá a comparação que eu lhe estou a fazer. Agora sou a ser um tanto mauzinho.
O que não sabia era que você sentia aversão por pessoas que falam “axim” , que dizem “carago”, que escrevem ao “bento” e bebem “binho”. Se gosta mais de água-pé, marche por aí abaixo.

Depois, e agora generalizando um pouco ao encontro dos professores em geral, onde eles “martelam” com mais insistência é na reivindicação constante e abusiva do estatuto de grandes trabalhadores e grandes sacrificados. Que passaram as passas do Algarve, para chegarem onde chegaram. Que andaram de saco à tiracolo, com ares de andarilho por terra e mares nunca dantes explorados. Aqui eu fico a meditar “carago, o que eles passaram, o que eles trabalharam coitados, para chegarem a profes”.

Mas eu pergunto, se os professores sabem o que é trabalhar antes de chegarem a ser gente crescida? Enquanto eles estudaram, os outros, os que hoje não são, ou não foram professores, fizeram o quê? Na sua ideia, nós os não profes, andamos a coçar o cu das calças pelos cafés. Está redondamente enganado.

Olhe, professor António França, muita gente como eu, começou a trabalhar aos dez anos, fazendo-o até aos vinte numa primeira fase, porque a tropa estava ali perto, trabalhando 14, 15 e mais horas por dia, sem ganhar nada. Quanto muito dez reis de mel coado. Os senhores professores sabem o que é trabalhar tantas horas e não ver a cor do dinheiro? Claro que não sabem, porque não passaram por isso.

Professor António França, professores em geral, eu fiz alguns estudos (Curso Complementar Geral Liceal) já adulto, à noite depois de exercer a minha actividade profissional durante o dia. Portanto passaram por mim muitos professores. Sabem qual é o balanço que eu faço que faço destes profissionais do ensino? NEGATIVO.
O que eles percebiam era de absentismo e de exercer muito bem uma disciplina que se chamava “deixa andar”. Conheci vários professores que davam aulas a correr e pela rama, com o objectivo de os seus próprios alunos irem à procura deles, para lhes darem umas explicações pagas a peso de ouro nos cafés, quando se aproximavam os testes, as provas globais ou os exames finais. Se calhar não sabem disto. Claro que não sabem.

Amigo António França, caros professores, vocês pensam que têm um rei na barriga, assim como outros ramos privilegiados da função pública: médicos, magistrados, políticos e por aí fora. Vocês julgam-se superiores a qualquer cidadão, só porque têm um canudo na mão. Mas sabem também que há licenciaturas que mais parecem ser tiradas através de números premiados em concursos da Coca-cola ou da farinha Branca de Neve.

Vocês, senhores professores não passam de uns funcionários do estado cheios de regalias, de que o país não tira o devido proveito. Portugal não pode ver nos professores uma “mais valia”. Quanto dos elevados índices de iliteracia não são provocados pelos senhores professores, que não conseguem levar uma criança, induzir um adolescente, a gostar de escrever coisas bonitas, de recitar Camões ou compreender Pessoa.
Isso é que era bom. Tomara eu, tomara este país que os alunos portugueses que vão para a faculdade, soubessem escrever decentemente, quanto mais saberem quem é Kant, Descartes ou resolver problemas de trigonometria.

Sr. professor António França, não há qualquer tipo de inveja pelo facto da sua classe ganhar fortunas de vencimento. O que há, isso sim, é um sentimento de injustiça que se instala num país de 200 mil pessoas com fome, 2 milhões de cidadãos que vivem no limiar da pobreza e perto de 500 mil desempregados. Mas vocês professores pagos principescamente, não sabem disso. Vocês só olham para os vossos umbigos, só têm atenção nos vários escalões da vossa profissão e para os milhares de contos no topo de uma carreira (que é onde se encontra a maioria dos professores) tão fácil de alcançar. Caso contrário vocês não ficariam tão “fulos” com as mudanças da actual ministra da educação.

E o sentimento de injustiça que nós sentimos é tanto maior, quando somos confrontados com os crónicos e escandalosos insucessos escolares dos nossos alunos, nas nossas escolas. Vocês viram aquela pouca vergonha (ranking das escolas portuguesas) que veio publicada, creio que em Julho, em todos os jornais? Viram? Claro que não viram.
E agora de quem é a culpa desta calamidade no ensino. De quem é a culpa deste estado de coisas? É minha? É dos encarregados de educação que, (dizem vocês) fazem dos estabelecimentos de ensino autênticos depósitos de cachopos? Pois é, vocês que são dos professores mais bem pagos da Europa, o que queriam, para o ramalhete ficar mais completo, era que a educação de uma criança, ou de um adolescente, fosse feita em casa, no seio da família, para que a sombra de uma azinheira vos servisse de companheira. Espectáculo!

Meu caro amigo professor António França e senhores professores, as coisas no campo da educação estão pelas ruas da amargura, estão mesmo nas profundezas do Inferno e a culpa é vossa. É dos professores que julgam que trabalham como desalmados e afinal vai-se ver é um forrobodó de todo o tamanho, pago pelos impostos de todos os portugueses (incluindo aqueles hoje não professores, que vocês dizem terem andado a polir esquinas e a puxar o lustro das cadeiras dos cafés). Mas também dos sucessivos Ministérios da Educação, que de laxismo em laxismo, nunca tiveram coragem de dizer “alto e pára o baile” para mudar alguma coisa. Que é o que esta odiada, humilhada e insultada ministra está de facto a tentar fazer.

Vou terminar esta carta, amigo professor António França, perguntando aos senhores professores, o que pensam, o que é que vos passa pela cabeça, quando vêm na televisão a juventude a responder barbaridades a perguntas tão básicas como estas: Quem foi Salazar? O que se comemora nos dias 25 de Abril, 1 de Maio, 10 de Junho, 5 de Outubro ou 1 de Dezembro? Ainda há dias nas Palavras Cruzadas do Jornal de Notícias, foi dado D. Carlos como o último rei de Portugal. Vejam lá como isto anda.

E porque será que a cultura das nossas gentes assenta em pilares como “Floribela”, “Morangos com Açúcar”, futebol e telenovelas? Será só da televisão? Olhem que não, senhores professores, olhem que não.

Para terminar, em que ficamos? De quem é a culpa do insucesso escolar, de termos um aproveitamento ridículo ao nível do conhecimento? Deve ser do Zé, trolha de profissão, que trabalha de manhã à noite, que tem três filhos na escola e não tem tempo de lhes ensinar o AEIOU. Se calhar nem ele o sabe, porque os professores não lhe ensinaram.

Meu caro amigo e professor António França, termino esta carta aberta dizendo: enquanto não provarem o contrário, eu continuo a pensar que os professores, tendo em conta os resultados que as escolas vão apresentando, não merecem o ordenado que ganham. O tal ordenado que diz que a malta do norte tem inveja.

Aqui fica a minha opinião!

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