30 outubro, 2007


OS GULAGS DE BUSH

Um dia destes, G.W. Bush, apareceu na televisão com aquela cara carregada de iliteracia, que todos bem conhecem, para falar do “gulag tropical” que, segundo ele, existe em Cuba, não deixando de aconselhar outros países a alinharem com ele no embargo económico àquele país.
Mais uma vez o ameri(cano de esgoto) veio falar da falta de liberdade e de democracia, chegando mesmo a aludir para a existência de um gulag na ilha de Fidel. A tal ilha pela qual tanta gente se baba, quando pensa em férias, apesar de não haver eleições livres. Como se o facto de não haver eleições livres fosse sinónimo de ditadura.
Eu conheço muitas sociedades que vão às urnas mais que uma vez num ano, e os atentados à democracia e a liberdade são constantes. Aqui em Portugal por exemplo, nós somos um país livre e democrático? Se somos livres e democráticos como se explica a existência os 2 milhões de pobres? Isto é democracia? Cidadãos (políticos, magistrados e outros funcionários públicos, como médicos e professores) com várias e faustosas pensões e outros portugueses que se limitam a sobreviver com uns patacos de reforma. Juizes que têm subsídio de habitação no valor de 750 euros por mês, quer tenham casa própria ou não, enquanto muita gente se escandaliza com o rendimento mínimo, que é atribuído a muitos dos tais 2 milhões de pobres? Isto é democracia? Eu sei que toda a gente sabe disto, mas de vez em quando é preciso lembrar. Numa sociedade livre e democrática estes disparates não têm cabimento.
Há quem diga que mais vale uma má democracia, que uma boa ditadura. Treta. É tudo treta. E quem fala assim, decerto que fala de cima da burra, decerto que fala de barriga cheia. Que adianta a um cidadão poder ter o direito de votar, e exercer em pleno o estatuto da liberdade que a constituição lhe confere, como poder dizer por exemplo, que o Sócrates é arrogante, que governa mal, se não tem trabalho, não tem dinheiro e muito menos futuro? Isto é democracia, isto é liberdade?
Quem me dera a mim, viver numa “ditadura” onde houvesse mais trabalho e menos telemóveis, onde haja menos ifones a mais criação de riqueza. Quando falo de riqueza, é riqueza a partir de todos com destino a todos.
Eu sei que não haverá sociedades destas. Mas também sei que o caminho político-social que as coisas estão a tomar neste país, nunca na vida podemos aspirar a que se governe num único sentido, que é o elemento humano.
Esta história das democracias e das ditaduras depende muito do poder económico de cada um, quer seja em Portugal, quer seja no Japão ou nos Estados Unidos. A democracia e a liberdade são muito bonitas, mas é no papel, porque na prática, já sabemos do que a casa gasta.
Por isso não venha esse republi (cano de esgoto) e psicopata Bush dar lições de democracia e liberdade e muito menos falar de gulags, a quem quer que seja. Os americanos não são os mais indicados a falar disso. Ou será que o Katrina aconteceu em Cuba? E os incêndios californianos queimaram vidas cubanas? Os Columbines aconteceram nas escolas do país de Fidel? Teria sido Fidel que foi por aí abaixo à procura das especiarias petrolíferas, matando, pilhando, semeando o terror a torto e a direito? Foi Fidel que aderiu à cimeira de guerra dos Açores, jurando de pés juntos que havia armas químicas no Iraque. E depois constatou-se que afinal as armas de destruição maciça, estavam na p...
Isto da democracia e liberdade é muito bonita, quando ela nos é proporcionada por pessoas bonitas e inteligentes, e não por cidadãos, como eu conheço alguns, que só pensam em eleições e nunca, mas mesmo nunca, nas próximas gerações. Esses, não têm um ego muito grande, têm é um umbigo enorme, bem no centro do seu mundo que é a sua própria barriga.
Por isso, indivíduos como o Bush vão dar lições de democracia e liberdade ao c... e é tratá-los bem.
Uma nota final, porque já me esquecia de referir. Onde foram recentemente umas dezenas de cidadãos algarvios tratar das cataratas? Pois é, foram a Cuba. Porque seria? Depois Cuba é uma ditadura e Portugal é uma democracia. Espectáculo!

27 outubro, 2007

HOLOCAUSTO


AINDA HÁ MUITO QUE CONTAR NESTA MATÉRIA

25 outubro, 2007

PENAFIEL A CRESCER

PENAFIEL STÁDIUM CENTER

Nome muito giro. Até parece que estamos nos States. Parece que não, mas um nome assim tão atraente, até chama muito mais gente.
Já estou habituado a este tipo de tratamento que se dão a coisas que são portuguesas. Querem mais alguns exemplos? Aqui vão. Como se chama a primeira divisão de futebol? Liga Bwin com. E a taça da liga? Carlsberg Cup. E o estádio do Braga, aquela maravilha arquitectónica? Axa. Querem melhor?

Ora bem, do que pretendo falar de facto (e agora é a sério), é da mudança do Estádio Municipal de Leiras, (vulgo Estádio 25 de Abril), para a freguesia de Novelas, que vai fazer parte de um complexo comercial e habitacional no valor de 100 milhões de euros (20 milhões de contos em moeda actual). A licença comercial, já foi aprovada e segundo o JN, este empreendimento arranca não tarda nada.

À primeira vista, eu estou totalmente de acordo. Futebol mais longe de mim, eu agradeço. A minha zona de habitação vai ficar muito mais sossegada, volto a agradecer. Uma zona comercial e habitacional fora da cidade, acho muito bem. E perto da linha do comboio, não podia ser melhor.

Eu acho que este projecto pode beneficiar Penafiel, porque vai alargar o seu tecido urbano, e isso é o que se pretende há muitos anos. Pode ser o princípio do fim da estafada e chata comó caraças frase “cidade de risca ao meio”. Sinceramente eu estou do lado de quem se lembrou de uma coisa destas. Pelo menos para já.

Agora eu gostaria de saber, qual o papel da Câmara Municipal de Penafiel no meio de tudo isto. Se 60 milhões de euros se destinam à zona comercial e 40 milhões estão reservados para a construção do hotel, moradias e instalação de bombas de gasolina, onde está o dinheiro para a construção do estádio para o FC de Penafiel. Quem é que vai entrar pela madeira dentro em relação ao novo parque desportivo do nosso FCP.

Depois há outras questões que podem e devem ser levantadas: O que é que vai acontecer com o actual “25 de Abril”? Vai ou não ser demolido? E aquele espaço vai ser vendido para dar lugar a mais um empreendimento imobiliário? Ou será que o velho estádio vai direitinho para a Federação de Futebol Amador? Não nos esqueçamos que a Câmara Municipal, na pessoa do Sr. presidente Alberto Santos, numa gala do futebol amador em 9 de Julho de 2005, prometeu um campo de futebol ao presidente daquela federação, Sr. Abílio Garcia.

Mas a grande vantagem que eu vejo na execução deste projecto (não sei se terá alguma ligação) é o facto de contribuir para a suspensão do Anégia-Shopping em Guilhufe. Aqui está de facto a grande virtude do Penafiel Stadium Center. Nem a capela da Lagarteira vai dar uma volta, nem vamos assistir àquela aberração junto ao Hospital Vale do Sousa. Até o Padre Américo ficou contente.

Uma nota final para dizer que acho um tanto ridículo, vir este grandioso projecto no jornal, dando particular destaque aos 1200 empregos que vão ser criados. Já aquando da novidade da Bracalândia aconteceu o mesmo. Grandes parangonas para os 135 postos de trabalho no Parque Temático. Não é necessário recorrer a isto. Parece uma estratégia para legitimar estas medidas. Não há necessidade.
Mas pronto, venha de lá esse Penafiel Stadium Center que eu vou gostar de gente passar.

18 outubro, 2007

NOTAS AO SR. PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE PENAFIEL

Chover no molhado

A primeira é para perguntar, uma vez que é membro da Comissão Toponímica de Penafiel, se as placas que dão nome a dois ilustres penafidelenses, como são os casos do Dr. Francisco Brandão e seu irmão Dr. José da Paz, vão ficar assim?
Eu sei que aquilo que eu digo não vale nada, que qualquer nota vinda de mim não vale um cêntimo. Que é chover no molhado. Também sei que se estes reparos fosse feitos por alguém ligado ao partido, coligação, ou ideologia que sustentam a Câmara e a Junta de Freguesia de Penafiel, outro galo cantaria. Nós sabemos disso. É uma doença que não vejo médico, ou antídoto para a debelar.
De qualquer forma eu tenho de dizer, que me envergonho daquelas placas alusivas aos dois cidadãos penafidelenses. Por uma simples razão, eu sei ler. Nunca fui uma pessoa de dar muitos erros. È que eu sem ter qualquer responsabilidade naquela matéria, posso passar por analfabeto. Por isso tenho sérias dúvidas da existência da tal comissão toponímica penafidelense.

A outra nota é para perguntar, correndo eu o risco de me tornar um chato do caraças, se o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Penafiel, viu e ou leu uma entrevista de António Sousa, novo treinador do FC de Penafiel no Jornal de Notícias? Não questiono nada sobre o conteúdo da mesma. Só lhe pergunto se reparou na foto de fundo que ilustra a dita entrevista? Pois é, não é a Quinta da Aveleda a tal maravilha que o Sr. nomeou (e depois até ganhou) para o tal pseudo-concurso das maravilhas de Penafiel.
Há dias perguntei neste blogue, o que é feito dos números em termos de votos, que ditaram as maravilhas vencedoras e vencidas. Não sei se mais alguém, mas eu gostava de saber.

Afinal aqui vai mais uma nota, a terceira. Esta deve ser extensiva à Câmara Municipal de Penafiel. Agora temos passeios com graffitis? Lindos. Parecem pinturas rupestres. Espectáculo!

12 outubro, 2007

DE NOVO OS PROFESSORES

Educação, cultura e cidadania

Tenho tanta pena deles, dos professores, que até me comovo. Não há lenços de papel que cheguem para tanta humidade. Choro copiosamente por eles. Muito mais que um dia de chuva num outono de Londres.

Agora é preciso acarinhar os professores, disse o professor Cavaco Silva, no passado dia 5 de Outubro. Tadinhos que estão a precisar de uns miminhos.

Cavaco falou assim, porque ele também foi professor e sabe do que a casa gasta. Tem uma relação muito afectiva com aqueles que na minha opinião são os que têm maiores responsabilidades no estado a que chegou o ensino em Portugal. Cavaco gosta dos professores e os professores gostam de Cavaco. Pudera, foi no consulado cavaquista que os professores se encheram de dinheiro, com actualizações de ordenados e masjestosos retroactivos. Não se lembram? Foi um festim.

No dia das comemorações da queda da monarquia, Cavaco disse também que é preciso que os pais se envolvam mais na educação dos seus filhos. Que a educação deve começar em casa.
Eu até acho muito bem. Eu acho que de facto os pais devem dar mais atenção aos seus filhos, porque a educação começa de facto da estrutura familiar. Mas toda a gente sabe que nas sociedades modernas, os pais cada vez têm menos tempo para educar os seus filhos. Trabalham os dois, muitas vezes longe dos seus lares. E chegam a casa em horas impróprias de consumo. Toda a gente sabe disso. Portanto fico na dúvida se Cavaco sabe do que fala.

Mas a ser assim, podemos começar com os casais de professores. Se numa casa houver pai e mãe professores, eu aconselho a que um deles fique em casa para dar educação os seus filhos. Não é assim? Até liberta mais um posto de trabalho para um outro professor que esteja desempregado.
Mas esta história levanta uma outra questão: então para que servem as creches, os infantários, ou os jardins-escola? Não serão precisamente para suprir estas dificuldades ao nível da educação das crianças?
O argumento de Cavaco Silva, para além de rebuscado e estafado, não colhe. O senhor professor apenas quis dar uma picadela a Sócrates. Veio proteger os professores, tão desamparados eles andam. E depois, eu só gostava de saber quem educou os filhos do Sr. presidente da República enquanto este estudou em Inglaterra.

Cavaco não quis reforçar a ideia, acho que justa de Sócrates em submeter os professores a exames de aptidão à carreira docente. Cavaco também não aplaudiu as avaliações a que estão sujeitos os senhores professores, avaliações essas que, quanto a mim só pecam por tardias.
Tal como os professores, se calhar o professor Cavaco gostaria que tudo ficasse como estava, ou seja: bagunça, forrobodó e regabofe. Enfim uma espécie de Jardim da Celeste, com a bandeira da diversão a sacudir belas contas bancárias nas cadernetas de cada um.

Cavaco não estendeu a sua intervenção para o ridículo que é a existência de dezenas de sindicatos de professores, com centenas de sindicalistas, que de tanto se estorvarem uns aos outros, correm o risco de se despenharem da tal plataforma. Uma plataforma que, pergunta-se, vive à custa de quem? E faz o quê? Apenas se perfila para aparecer na televisão a reclamar direitos, dizem, adquiridos. Isso Cavaco não disse. Isso Cavaco Não vê.
Isto só vem confirmar que o cavaquismo foi uma grande dor de cabeça para este país.

Tenho para mim, e ninguém me tira da cabeça e até prova em contrário que, atendendo aos resultados que têm aparecido na comunicação social, acerca do aproveitamento escolar dos alunos, os professores não merecem os ordenados que têm, nem de perto, nem de longe. O país anda a desgraçar orçamentos fabulosos numa educação que nos envergonha.
E quem são os responsáveis? Devem ser os pais que não ligam nenhuma à vida escolar dos filhos, que apenas fazem das escolas um depósito de crianças. Para mim, a culpa maior vai para aqueles que se acham superiores aos demais cidadãos, julgando que têm um rei na barriga. Só que isso já foi. Foi no tempo da “monarquia” que terminou em 25 de Abril de 1974. Foi no tempo do “botas”, do ditador, que caiu da cadeira levando consigo o prior e o regedor.

Se não existem carências quanto aos número de professores, há muita carência nos professores. Eles são carentes de pelo menos três coisas fundamentos para o bom funcionamento de uma sociedade: educação, cultura e cidadania. Eles dominam mal estes pilares que servem de alicerces na edificação de um país culto, moderno e desenvolvido. É a estas três estruturantes árvores que eles não conseguem subir. Subiam sim, se os frutos fossem mais dois ou três escalões nas suas carreiras. Trepavam logo, não precisavam de atirar pedras.

Eu posso ser acusado de estar a generalizar, e que devia saber que há bons e maus professores, como há bons e maus profissionais em qualquer ramo de actividade. Engano. Aí é que está o cerne da questão. A par de outras actividades profissionais como a medicina, por exemplo, não pode, não deve haver maus professores. Só tem de haver bons professores, como só pode haver só bons médicos. Só pode ser assim.

Ao contrário de alfaiates, picheleiros, carpinteiros ou trolhas, por exemplo, em que se um fizer um fato mal feito, outro deixar uma torneira a pingar, o terceiro fazer uma mesa com uma perna mais curta que as outras e o quarto pintar mal uma parede, tudo tem solução, não vindo daí grande mal à sociedade. Mas perante os erros ou incompetências de um mau professor, ou de um mau médico, as consequências podem ser devastadoras.

É por isso que o país tem de ser mais exigente e rigoroso na aquisição destes profissionais da educação, para que os índices de iliteracia, de abandono e insucesso escolares desçam, para que Portugal suba de escalão na União Europeia.

As escolas, o ensino, a educação, o país não podem ficar sujeitos a este atropelos a um bom funcionamento de uma sociedade que se quer melhor, já que não as há perfeitas.

09 outubro, 2007

AS MARAVILHAS DE PENAFIEL

Não é preciso assobiar...

Desta vez é a sério. Vou falar de novo das nossas (ou deles) maravilhas de Penafiel. Para começar gostaria de perguntar ao senhor presidente da Junta de Freguesia de Penafiel, se por acaso viu, ou foi informado de como é constituído o cenário, ou a imagem de fundo que aparece no programa da RTP “Praça da Alegria”, sempre que uma ou outra avó do nosso concelho é convidada para estar presente? Devo dizer que é uma bela imagem, e gigante. É uma imagem claríssima que não deixa dúvidas a ninguém.

Não. Não é a Quinta da Aveleda, a tal maravilha que o Sr. presidente seleccionou como a melhor da nossa freguesia, para o concurso de apuramento das sete mais de Penafiel. Não é a Quinta da Aveleda, a tal empresa vitivinícola que fica entre Penafiel, Guilhufe e Santiago, maravilha vencedora da pseudo eleição na Agrival.
Claro que foi uma pseudo eleição. Claro que foi uma patetice. Claro que foi uma brincadeira, um pouco parecida com aquela que elegeu “aquilo” que está na rotunda do Gomes da Recauchutagem

E já que estou a falar disto e a talhe de foice, e esta questão vai direitinha para os Rotários e Rotaracts e Interacts de Penafiel, eu tomei conhecimento pelos jornais dos resultados da “votação” das sete maravilhas de Penafiel e não vi números. A Quinta da Aveleda ganhou por quantos votos? O Mosteiro de Paço de Sousa, (que para mim é sem sombra de dúvida a maior maravilha do concelho de Penafiel), ficou em segundo a que diferença da vencedora? E o convento de Bustelo? E o Monte Mozinho? Então as maravilhas foram a votos e não sabem por quantos perderam e ou ganharam?
Eu bem disse que isto não tinha a mínima credibilidade. Foi tudo uma encomenda publicitária em favor da Quinta da Aveleda. A propósito de quê?

Senhor presidente da Junta de Freguesia de Penafiel, isto foi tudo muito bem combinado. Foi tudo muito bem feito. Se calhar até a política partidária entrou na festa. É tudo da mesma cor. Têm todos a mesma ideologia. Se os Rotários se movimentam em redor de uma determinada força política, isto é do PSD, os Rotaracts são os seus jotas. Alguém tem dúvidas de que a Rotaract e Interact são os iniciados, os juvenis, os juniores sociais democratas de Penafiel? E os senhores da Quinta da Aveleda de que partido serão? E a Junta de Freguesia de Penafiel. E a Câmara Municipal? Tudo certo na hora certa.

Não é preciso assobiar para a gente perceber?

03 outubro, 2007

SE BEM ME LEMBRO!

Apesar de já ter sido velho, que foi quando vi e aprendi alguma coisa, e caminhar actualmente para uma juventude que se prevê ainda mais complicada que aquela que me acompanhou durante duas ou três décadas, não sou propriamente um saudosista. Não tenho o costume de passar a vida a olhar para trás. Se em termos políticos-sociais, gosto mais do hoje que do ontem, já em termos de vivências, passagens e paisagens penafidelenses, prefiro mais as de ontem que as de hoje.
Isto para chegar à eleição das “Maravilhas de Penafiel”, cujos resultados foram conhecidos há dias e que me fizeram recuar no tempo, ao encontro de usanças e andanças, que serão sempre capítulos de uma história de inesquecimento global.

Assim, sem mais delongas e de baixo para cima, temos que a sétima maravilha foi para o Tanque de Melres, no Cedro, onde noutros tempos, as mulheres da cidade se juntavam para lavar a roupa da semana anterior.
Às vezes, o tanque, que não é nada pequeno, não chegava para todas, tantas eram. Depois, aquilo era um pagode de palração a acompanhar a chinfrineira que faziam, quando batiam com a roupa na parte inclinada do tanque. Falava-se de tudo. Falava-se da vida alheia. Falava-se desta e daquela, quantas vezes de futebol a comentarem a jornada do dia anterior. Algumas línguas viperinas iam um pouco mais longe e envenenavam o ambiente de tal forma, que pouco faltava para cair “molho”. Mas ao fim da tarde, já os ânimos estavam serenados e a roupa que antes era suja, já exalava um odor a lavado e fresco.

O sexto lugar maravilhoso foi direitinho para o largo do Gravato, no início da rua Mário de Oliveira, onde nas décadas de cinquenta e sessenta se realizavam os bailes dos santos populares. Pelo Santo António, S. João e S. Pedro, não havia pé de pobre que não dançasse. Lembro-me muito bem de ver óptimos dançadores, como o Rui Campanera, o Gusto, a Teresa do Serafim, a Judite do Ceguinho, a Aida do Zé latoeiro, o Amorim, o Geraldo, o Álvaro “latas” e muitos mais. As músicas em altos decibéis vinham de um alto-falante colocado na esquina da dita rua que tem o nome do filho do Zeferino de Oliveira. Era um espectáculo vê-los dançar, rodopiar, saltar ao som de passe-dóbles, de valsas como a da “Meia-Noite”, ou ainda de tangos como o “Autocarro do Amor” do “Barnabé”, “Lá Comparsita”, “À Média Luz” ou o célebre tango dos Barbudos que começava com um tiroteio. Era bailarico até às tantas, refrescado por uma goladas de laranjadas e pirolitos.

A “Capelinha”, que fica na confluência das ruas Faião Soares e Sacramento, conquistou e muito bem o quinto lugar. E porquê?
Porque havia junto a esta capela do Senhor dos Passos, duas árvores que davam umas pequenas bolinhas muito vermelhas e saborosamente doces, que nos faziam subir e descer constantemente, quantas vezes cair. Ali também se jogava a “pincha” em três esteios de pedra (quais menires), que lá haviam. Jogava-se a botões. Quantas vezes nós íamos para casa com a carcela aberta e a segurar as calças com as mãos, porque os suspensórios (alças) não seguravam nada, já que tinham ficado sem um único botão.

A rua do Cedro também foi premiada. Obteve o quarto posto, o que até nem está mal, embora eu só tenha queixa desta estreitíssima rua. Quando lá íamos jogar futebol de pé descalço ou de chancas, pela equipa do colégio (da Sagrada Família), éramos sempre corridos à pedrada, quer ganhássemos ou perdêssemos. É de referir as antológicas tabelinhas que fazíamos com o muro da casa do Dr. Brandão. Se durante o jogo, normalmente haviam charutadas, rasteiras e garuladas, este acabava sempre com uma corrida de pedras. Então se a vitória fosse nossa, era o bom e o bonito. Só parávamos de fugir chegados ao quiosque na Misericórdia.

Quanto ao terceiro lugar alcançado pela Associação dos Caixeiros, no centro da cidade, foi uma agradável surpresa. A ela estão associados belos e inesquecíveis momentos de lazer aos domingos à tarde. A malta ia para lá jogar bilhar, jogar matraquilhos, quando havia dez ou quinze tostões disponíveis para tal. Ou então ouvir os relatos de futebol, do Porto, do Benfica e do Sporting. Quem não se lembra das vozes radiofónicas do Nuno Brás, do Amadeu José de Freitas, ou do Mário Cília? Eu lembro-me muito bem. Até me lembro da constituição de uma equipa do Porto, daquelas que fizeram com que o clube das Antas não “cheirasse” o campeonato durante 18 anos: Américo; Festa, Almeida Rolando e Atraca; Pavão e Gomes; Jaime, Djalma, Pinto e Nóbrega. O brasileiro Djalma, por cada dois golos que marcasse num só jogo, ganhava um televisor, oferta da Electrovisão.

O segundo lugar foi bem aplicado às ruas Abílio Miranda e Pedro Guedes. Foram a segunda maravilha de Penafiel por terem sido durante largos anos as nossa pistas para as corridas de carros de rolamentos.
Era a maluqueira da época. Nós, meia dúzia de putos daquele tempo, partíamos junto à casa do Dr.. Brandão, virávamos para a rua do “conde” da Aveleda e lá íamos por ali abaixo, passando pelas “Tiroliras”, imprimindo velocidade com as mãos no espiche, travando se fosse o caso, com os tacões dos sapatos, até ao cruzamento de Louredo. Não foram poucas as vezes em que tínhamos a “bófia” lá à nossa espera. Lá estavam de “mauser” à tiracolo, o Magalhães, o Sousa ou o Babo.
Se ao baixo era uma pressinha, porque todos os santos ajudavam, ao cima, era outra, a fugir da GNR, só que desta vez corríamos com os carros de rolamentos debaixo do braço. Era uma cansaço, mas era uma festa, refrescada com uns mergulhos na presa dos “planos”, leia-se Pelames, na rua com o mesmo nome.

E o primeiro lugar foi atribuído a quem? Quem foi que deitou os foguetes finais?
O primeiro lugar foi para...
Não foi. Não foi, porque o jardim da D. Cotinha não tinha os atributos necessários para alcançar tal desiderato.
Se tinha calçada à portuguesa, não tinha nenhuma palmeira. Se tinha escadaria, não tinha lago. Se tinha gatos nas janelas, não tinha pavões nas redondezas. E se tinha muitas flores, não tinha nenhum cruzeiro, por exemplo, aquele setecentista, que esteve em frente da Igreja da Matriz até à segunda metade do século XIX. Por isso...

Por isso, o primeiro prémio das maravilhas de Penafiel foi, assim sim, atribuído ao belo suporte da esplanada do Bar do Lago, no Sameiro, que está muitíssimo bem dentro de água. Decerto que nenhum Titanic se irá esbarrar contra aquele icebergue, uma vez que o local onde no passado se realizava o Baile do Lago, hoje não é navegável.

Houve ainda direito a menções honrosas, como por exemplo, e entre outras, as atribuídas ao: Domingos 33, ao Coelho da Tortas, ao Balcão do Cinema, aos leilões do Recreatório, às barbearias do Piróla e do Adolfo, às tascas da Sobreira, do Ernesto, do Serafim e do Gravato. Não esquecendo o Laurindo do Quiosque, a padaria da Corneta, o Fófa, o rancho do Quartel, o queijo amarelo da Sagrada Família, o Pinto Maneta, e mais. Trinta e uma ao todo.

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