21 março, 2007

DIAS SALAZARENTOS

O MUSEU DE SALAZAR

No passado dia 3 de Março, ao fim da tarde, depois de ter assistido a algumas cerimónias comemorativas deste dia importante para Penafiel, tive uma surpresa. Ao passar por uma das paragens-abrigadas de autocarro, na avenida Pedro Guedes, e num dos espaços destinados à publicidade, fui confrontado com uma imagem de encher o olho. Imagem essa que apelava ao voto numa determinada personalidade. E quem era essa personalidade? Nem mais nem menos, que Salazar. Ele mesmo, o António Oliveira Salazar. O cartaz em questão, solicitava o voto dos cidadãos para que ele fosse eleito o maior português de todos os tempos.

Bem, eu pensei que existiriam outras imagens de outros candidatos espalhados pela cidade, porque como se sabe, são 10 os finalistas neste concurso inventado pela RTP. Procurei pela cidade, mas nada. Nada de Camões, nada de Pessoa, nada de Marquês. E nada dos outros. Encontrei uns dias mais tarde um cartaz dedicado a D. João II, perto do cemitério municipal de Penafiel. Creio que ainda apareceu mais um Salazar em Novelas.

Com que então, D. João II e Salazar! Com que então Salazar e D. João II! Escapou-me logo boca fora: “olha que dois!” Um primeiro ministro e um rei de Portugal. Um ditador e uma ave de rapina. Um que inventou a Pide para vigiar o país das más línguas e o outro que contratou o pirata Vasco da Gama, para invadir a Índia e “sacar” as almejadas especiarias. Um que atrasou Portugal várias décadas e o outro que foi o grande percursor da escravatura e do colonialismo, do Portugal tordesilhado de além-mar.

Como tenho uma visão nada positiva dos “descobrimentos”, logo não vou falar dessa histórica pantomineirice. Só o farei quando houver razões para tal, isto é, quando for conhecida a classificação final desses três grandes escorbutos da nossa história, que foram, D. João II, Infante D. Henrique e Vasco da Gama, no tal concurso da RTP “o maior português de todos os tempos”.

De facto o que aqui me traz, é mesmo Salazar e a pretensão de se criar em Santa Comba Dão, um museu com o nome do homem que içou bem alto a bandeira do “Portugal dos pequeninos”.

E o que é que se me oferece dizer sobre tal projecto? Oferece-me dizer que estou plenamente de acordo. Subscrevo por baixo a intenção de levar por diante a construção desse museu. Estou de acordo, porque defendo que se avive sempre a memória nos pedaços da nossa história.

Esse museu que se chamará eventualmente Museu Salazar, deverá conter no seu interior, “retratos” relacionados com salazarismo e o Estado Novo. Por exemplo, deverá conter todas as fotografias dos soldados mortos na guerra Colonial. Todas. Que são cerca de dez mil. Todas as fotos dos 50 mil estropiados dessa mesma guerra. Mais ao lado, bem visível, estaria uma bela imagem pintada a sangue, de Humberto Delgado, “emoldurada” pelas milhares de fotos dos bufos, carrascos e assassinos da Pide.

Bem defronte a uma parede recheada de inúmeros recortes de jornais, com fotos desse campo de terror que foi o Tarrafal, um andor criado para o efeito, daria relevo a uma imponente escultura em cera, reproduzindo o mais célebre casamento da história de Portugal: o catolicismo com o fascismo, corporizado por Oliveira Salazar e sua “eminência”, o cardeal Cerejeira.

Por outro lado, e subscrevendo aqui algumas “bocas” do “Compadre Vicêncio”, num dos programas da “Praça da Alegria”, o museu Salazar, não devia ter luz eléctrica, nem quartos de banho, nem qualquer tipo de saneamento, que era o que não tinha a maioria dos portugueses no tempo em que Salazar atrasou este país. Muito menos, livros, jornais, apontamentos, sequer grandes leituras, porque o país salazarento não sabia ler, nem escrever, era analfabeto.

Um dos ex-líbris daquele monumento de homenagem ao regime fascista, seria a instalação de um porteiro, que estaria ali, não para rasgar os bilhetes de entrada, mas para ser no exterior uma montra do que havia no seu interior. Esse porteiro, devia ser o espelho da nação daquele tempo, isto é, pobre, pedinte, ignorante e de terço nas mãos.

Eu não entendo que haja quem sustente, que o museu Salazar no Vimieiro, seria uma mais valia para o concelho de Santa Coma Dão, prevendo grande afluência de visitantes e turistas. Eu não sei se será assim, porque não estou a ver, quem terá pachorra para andar por lá a vender santinhos a tostão e canecas de vinho a c´roa.

Haverá ainda neste país, assim tantos saudosistas dos três “efes” e do “passa fome e anda alegre”? Às tantas há. Às tantas, o que resta do país rural e atrasado, vai excursionisticamente por aí acima em romaria homenagear o ditador santacombadense.

Nunca se sabe se ali não estará a chave da resolução de problemas relacionados com o empobrecimento e desertificação do interior.

Nunca se sabe. Por isso para a frente com o museu António Oliveira Salazar.

16 março, 2007

FALAR DE FUTEBOL

Prostituição da comunicação social

Palavra de honra que não estava à espera de vir a falar de futebol. Não faltam outros temas distintos que apelam a minha atenção. Mas os últimos acontecimentos ligados ao futebol e aos jornais, clamam umas tretas, que passo a escarrapachar.
No passado domingo, dia 4 de Março, o Jornal de Notícias, trazia na primeira página a foto do jogador do FC Porto Adriano, que marcou o golo da vitória ao Braga na noite anterior, dedicando-lhe um espaço bem maior que um postal. Mas este jornal cedeu apenas um espaço do tamanho de um selo também na primeira página, à atleta Naide Gomes, que conquistou uma medalha de ouro nos campeonatos europeus de atletismo, no triplo salto, também no dia anterior. Será que o golo do brasileiro Adriano é mais importante do que o título europeu da portuguesa Naide Gomes? Isto é jornalismo bacoco, provinciano, rasca e abaixo de zero. Não dá para entender.
Isto não é novidade. Isto já vem acontecendo ao longo dos tempos, o que é de lamentar.

Mais recentemente, na semana das provas europeias, o Porto jogou com o Chelsea, o Benfica com o Paris Saint Germain e o Braga com o Tothennam. No dia seguinte ao jogo de Londres, em que o Porto perdeu, os jornais desportivos portugueses o que é que traziam nas suas primeiras páginas? Traziam apenas Benfica por todo o lado: O “Record” encheu a sua primeira página com “um enigma chamado Derlei”. O jornal “A Bola” também na sua primeira página, chamou a atenção para um diamante benfiquista de cinco jogadores do SLB. O “Jogo” de Lisboa, encheu o olho com o Luisão. O Luisão joga onde? Portanto ignoraram completamente o jogo Chelsea-Porto.
Passados dois dias, isto é, no dia seguinte ao jogo de Paris, em que o Benfica perdeu com o clube de Pauleta, o que é que os mesmos jornais chamaram às sua primeiras páginas? O que é que havia de ser? Outra vez Benfica por todo o lado. Grandes fotos e grandes parangonas sobre o acontecimento do Parque dos Príncipes. Este jogo para aqueles jornais da capital, foi muito mais importante, que o outro que opôs Jesualdo Ferreira a José Mourinho.
Estes jornais, esqueceram-se completamente que o Sporting de Braga também jogou na mesma noite e para a mesma competição europeia.
Mais, no dia seguinte ao jogo PSG-SLB, o telejornal da televisão que comemorou agora 50 anos de “serviço público”, abriu o seu noticiário com o tal “jogo do ano” da capital francesa. Então e o Braga? Então e a equipa de Jorge Costa não jogou?
Claro que isto não é nada a que não estejamos habituados.
Mas que é jornalismo no seu melhor, lá isso é. Faz lembrar o antigamente, quando o Benfica tinha toda a comunicação a seus pés e exportava o Eusébio para todo o mundo. Isto faz lembrar o tempo do outro senhor. Aquele que caiu da cadeira e que agora se prepara para ser o maior português de sempre. Também não é caso para admirar, com seis milhões de simpatizantes, não se podia esperar outra coisa!
Isto é o futebol em toda a sua dimensão e uma comunicação social do tamanho de Portugal. Uma comunicação social que se prostitui com algumas cores.

NOTAS À SOLTA EM PENAFIEL

PENAFIEL VERDE

A primeira nota é para chamar a atenção da administração da empresa municipal “Penafiel Verde” (PV).
Então não era suposto os consumidores de água receberem uma factura de consumo do preciosos líquido, de dois em dois meses? Claro que era. Pelo menos isso foi dito numa reunião de Câmara pública a que eu tive oportunidade de assistir, tendo até questionado o Sr. Vereador e presidente da administração da PV sobre o assunto.
Então porque razão, que comigo tenha acontecido precisamente o contrário?, isto é, receber duas facturas em menos de um mês. Mais, pergunto ao Sr. presidente da administração da PV, Dr. Mário Magalhães, se os funcionários da empresa que fazem a leitura do consumo, se estão à altura dos acontecimentos. Porque razão a factura que agora recebi, que diz que o tipo de leitura foi “lida”, tem uns números que não correspondem ao que assinala o contador? Porque razão o funcionário “ledor” apontou 1279 metros cúbicos, quando na verdade só lá está marcado no contador apenas 1276? Vou por isso, pagar um não consumo de água. Isto com a agravante da mudança de escalão, ao quarto metro cúbico.
Sr. Dr. Mário Magalhães, mesmo estando a falar de números pequenos, seria sinal de bom senso estar um pouco mais por dentro deste assunto, porque erros destes podem desencadear protestos, reclamações junto dos consumidores, projectando para o exterior, uma imagem menos positiva e sinais de menos credibilidade, desta recém criada empresa de águas e saneamento de Penafiel. E ninguém estará interessado nisso.



TRÂNSITO EM PENAFIEL

A segunda nota, tem a ver com o trânsito na cidade, logo este recado vai direccionado para o Dr. Antonino de Sousa, vereador responsável pelo trânsito e mobilidade na cidade de Penafiel.
Porque razão o trânsito que vai do lado da Câmara Municipal de Penafiel, em direcção às escolas primárias, na rua Conde de Ferreira, não o pode fazer, não pode virar à direita? Por outro lado, o trânsito que vem do lado do Calvário, já o pode fazer, em direcção ao mesmo destino, virando à esquerda?
Mas então virar à esquerda, não é uma manobra mais perigosa e mais complicada? E depois esta operação não afecta mais o trânsito nos dois sentidos na avenida que lhe está subjacente? Sinceramente não entendo.
Eu que pensei que a bandeira prateada da mobilidade, estava ali mesmo à beira do Egas Moniz, não para embandeirar em arco, mas mostrar que o trânsito em Penafiel anda no melhor das suas rodas.
Eu já passei lá no local, virei à direita, desconhecendo a alteração, não visualizando o sinal. Não fui multado porque não calhou.


ZONA PEDONAL DE PENAFIEL

A terceira e última nota, vai a pé porque vamos falar da zona pedonal de Penafiel.
As ruas Alfredo Pereira e Joaquim Cotta, tornaram-se de há uns anos a esta parte, um foco de discussões, contradições e muitas confusões.
Acredito que quando o ex-presidente da Câmara, Agostinho Gonçalves, se lembrou de pedonizar aquela zona nobre da cidade, o fez com a melhor das intenções. No entanto, aquilo tem dado enormes dores de cabeça a quem lá reside e a quem lá tem o seu comércio, o seu negócio. De há meia dúzia de anos até hoje, a confusão e a bagunça são totais. Dá a ideia que a decisão de pedonizar, aquelas ruas, não obedeceu ao mais elementar que tem a democracia: dialogar, arranjar consensos, alargar a discussão o mais possível, saber dos prós e contras, e depois avançar ou não com a obra. Parece-me que isso não foi feito.
Uma coisa é certa, ninguém está satisfeito com a actual situação. Neste momento, meco para cima, ou meco para baixo, a azia e o mal estar continuam. Aquilo dos sinais verdes e vermelhos são um espectáculo. Um dia se o Sr. Scolari por aqui passar, decerto que vai gostar.
Outra coisa é certa, agora, o Largo da Ajuda e rua acima em direcção ao Sameiro, parecem um deserto. Parecem uma zona fantasma da cidade. Quando passavam os carros, era uma barafunda. Agora não passam os carros, não passa, nem está ninguém. É assim que crescem as desertificações das cidades. É assim que em muitas cidades deste país, estas zonas pedonais, são os alvos preferidos de ladrões e marginais, fazendo subir os índices de criminalidade e violência.
É preciso povoar de novo as cidades. Muito pouca gente reside no Largo da Ajuda e rua Alfredo Pereira. E é preciso ter isso em consideração.
Eu sei que falar é fácil. Mas falar é preciso. Mas o que eu faria nesta situação e nauela zona, era mudar totalmente aquele piso (sinceramente, aquilo não é nada. Que falta de gosto ali se instalou. Granito mal tratado, que se prolongou pelos passeios das avenidas centrais da cidade). Fazia um passeio lindo (mesmo de granito) de cada lado e deixava passar o trânsito (só ligeiro, claro). Uma cidade tem de ter gente para andar para a frente. E depois não há nada que se compare com um engarrafamento de trânsito, para que as pessoas possam ver com calma as montras dos estabelecimentos comerciais, ali mesmo ao lado. Ouvir-se até alguém gritar de dentro de um carro: “pára aí, que eu vou ali ver aqueles saldos”.
Qual o espectáculo que será melhor que aquele, que é presenciar de manhã à noite os carros a passar? Há lá coisa mais bonita numa cidade, que escutar o chilrear da busina de um automóvel? Ou o sussurrar adulador de um motor?
Penafiel só é bonita com vida no meio dela.

07 março, 2007

A GLOBALIZAÇÃO

Linguagem e medo global

por Eduardo Galeano

Na era vitoriana, as calças não podiam ser mencionadas na presença de uma senhorita.

Hoje, não fica bem dizer certas coisas na presença da opinião pública. O capitalismo ostenta o nome artístico de economia de mercado, o imperialismo chama-se globalização.

As vítimas do imperialismo chamam-se países em vias de desenvolvimento, o que é como chamar de crianças aos anões.

O oportunismo chama-se pragmatismo, a traição chama-se realismo.

Os pobres chamam-se carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos.

A expulsão das crianças pobres do sistema educativo é conhecida sob o nome de deserção escolar.

O direito do patrão a despedir o operário sem indemnização nem explicação chama-se flexibilização do mercado laboral.

A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria.

Ao invés de ditadura militar, diz-se processo.

Quadro de Fernando Botero. As torturas chamam-se pressões ilegais, ou também pressões físicas e psicológicas.

Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões e sim cleptómanos.

O saqueio dos fundos públicos pelos políticos corruptos responde pelo nome de enriquecimento ilícito.

Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos automóveis.

Para dizer cegos, diz-se não visuais, um negro é um homem de cor.

Onde se diz longa e penosa enfermidade deve-se ler cancro ou SIDA.

Doença repentina significa enfarte, nunca se diz morte e sim desaparecimento físico.

Tão pouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares.

Os mortos em batalha são baixas, e as de civis que a acompanham são danos colaterais.

Em 1995, aquando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: "Não me agrada essa palavra bomba, não são bombas. São artefactos que explodem".

Chamam-se "Conviver" alguns dos bandos que assassinam pessoas na Colômbia, à sombra da protecção militar.

Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade a maior prisão da ditadura uruguaia.

Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, metralhou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, no momento em que rezavam numa igreja da aldeia de Acteal, em Chiapas.

O medo global

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.

Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.

A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.

Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas.

É o tempo do medo.

Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.

SALAZAR E SALAZARISMOS

Vale a pena analisar os factos

Como é que é tolerável que o regime democrático deixe a RTP fazer a apologia do responsável disto tudo e de muito mais, dando a Jaime Nogueira Pinto mais de meia hora para fazer o elogio de Salazar?


HAJA MEMÓRIA

1931

O estudante Branco é morto pela PSP, durante uma manifestação no Porto;

1932

Armando Ramos, jovem, é morto em consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa;

1934, 18 de Janeiro

Américo Gomes, operário, morre em Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista ferroviário morre durante a tortura em consequência da repressão da greve; Júlio Pinto, operário vidreiro, morto à pancada; a PSP mata um operário conserveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal;

1935

Ferreira de Abreu, dirigente da organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede da PIDE (então PVDE);

1936

Francisco Cruz, operário da Marinha Grande, morre na Fortaleza de Angra do Heroísmo, vítima de maus tratos, é deportado do 18 de Janeiro de 1934; Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante a tortura;

1937

Ernesto Faustino, operário; José Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias; Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PIDE (PVDE) durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior, operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;

1938

António Mano Fernandes, estudante de Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigente do PCP, morre no Tarrafal após lenta agonia sem assistência médica;

1939

Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima de doença e de maus tratos;

1940

Jaime Fonseca de Sousa, morre no Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no Tarrafal;

1941

Jacinto Faria Vilaça, Casimiro Ferreira; Albino de Carvalho; António Guedes Oliveira e Silva; Ernesto José Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;

1942

Henrique Domingues Fernandes morre no Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!); Bento António Gonçalves, secretário-geral do PCP, morre no Tarrafal; Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar, morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no Tarrafal;

1943

Rosa Morgado, camponesa do Ameal (Águeda), e os seus filhos, António, Júlio e Constantina, são mortos a tiro pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal; Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa; Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;

1944

General José Garcia Godinho morre no Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente), mais 40 camponeses são feridos a tiro;

1945

Manuel Augusto da Costa morre no Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo; Alfredo Dinis (Alex), operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de tuberculose em consequência dos maus tratos na prisão;

1946

Manuel Simões Júnior, operário corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação; Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, é morto por espancamento após quinze meses de prisão;

1947

José Patuleia, assalariado rural de Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;

1948

António Lopes de Almeida, operário da Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal; Joaquim Marreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de deportação; António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de Janeiro de 1934, morre quase cego e após doença prolongada;

1950

Militão Bessa Ribeiro, operário e dirigente do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade; José Moreira, operário, assassinado na tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é lançado por uma janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;

1951

Gervásio da Costa, operário de Fafe, morre vítima de maus tratos na p risão;

1954

Catarina Eufémia, assalariada rural, assassinada a tiro em Baleizão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos braços;

1957

Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do Porto; José Centeio, assalariado rural de Alpiarça, é assassinado pela PIDE;

1958

José Adelino dos Santos, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores são feridos a tiro; Raul Alves, operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é lançado por uma janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do embaixador do Brasil;

1961

Cândido Martins Capilé, operário corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada; José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa numa rua de Lisboa;

1962

António Graciano Adângio e Francisco Madeira, mineiros em Aljustrel, são assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro, operário de Alcochete, é assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do 1º de Maio em Lisboa;

1963

Agostinho Fineza, operário tipógrafo do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma manifestação em Lisboa;

1964

Francisco Brito, desertor da guerra colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, é assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;

1965

General Humberto Delgado e a sua secretária, Arajaryr Campos, são assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno (Espanha), os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco, o subinspector Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;

1967

Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;

1968

Luís António Firmino, trabalhador de Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto, trabalhador rural, é morto à pancada no posto da PSP de Lamego por condenar publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite sem assistência;

1969

Eduardo Mondlane, dirigente da Frelimo, é assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;

1972

José António Leitão Ribeiro Santos, estudante de Direito em Lisboa e militante do MRPP, é assassinado a tiro durante uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu assassino, o agente da PIDE Coelha da Rocha, viria a escapar-se na "fuga-libertação" de Alcoentre, em Junho de 1975;

1973

Amílcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;

1974, 25 de Abril

Fernando Carvalho Gesteira, de Montalegre, José James Barneto, de Vendas Novas, Fernando Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante dos Açores, são assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua António Maria Cardoso, são ainda feridas duas dezenas de pessoas.

A PIDE acaba como começou, assassinando. Aqui não ficam contabilizadas as i númeras vítimas anónimas da PIDE, GNR e PSP em outros locais de repressão.

Mais ainda

Podemos referir, duas centenas de homens, mulheres e crianças massacradas a tiro de canhão durante o bombardeamento da cidade do Porto, ordenada pelo coronel Passos e Sousa, na repressão da revolta de 3 de Fevereiro de 1927. Dezenas de mortos na repressão da revolta de 7 de Fevereiro de 1927 em Lisboa, vários deles assassinados por um pelotão de fuzilamento, à ordens do capitão Jorge Botelho Moniz, no Jardim Zoológico.

Dezenas de mortos na repressão da revolta da Madeira, em Abril de 1931, ou outras tantas dezenas na repressão da revolta de 26 de Agosto de 1931.

Um número indeterminado de mortos na deportação na Guiné, Timor, Angra e no Cunene.

Um número indeterminado de mortos devido à intervenção da força fascista dos "Viriatos" na guerra civil de Espanha e a entrega de fugitivos aos pelotões de fuzilamento franquistas.

Dezenas de mortos em São Tomé, na repressão ordenada pelo governador Carlos Gorgulho sobre os trabalhadores que recusaram o trabalho forçado, em Fevereiro de 1953.

Muitos milhares de mortos durante as guerras coloniais, vítimas do Exército, da PIDE, da OPVDC, dos "Flechas", etc.


05 março, 2007

UMA VISÃO POMBALINA


Atribuição da Medalha de Ouro a Justino do Fundo


Na ultima sessão da Assembleia Municipal de Penafiel, que ocorreu no passado dia 9 de Fevereiro, o deputado Adrião Cunha da CDU, propôs à Câmara e à Assembleia Municipais, a atribuição da Medalha de Ouro da Cidade de Penafiel, ao cidadão e ex-presidente da Câmara, Justino do Fundo, aventando inclusive a hipótese de esta ser feita no próximo dia 25 de Abril.

Mais uma vez Adrião Cunha esteve no seu melhor. Pela oportunidade, pela justeza e acima de tudo pela insuspeição da sua lembrança. De facto, o deputado municipal Adrião Cunha, é insuspeito nesta matéria, na medida em que a CDU, foi a única estrutura partidária por onde Justino do Fundo não passou, embora tenha “pairado” no MDP no pós 25 de Abril de 74.

Porque razão, o PS, o PSD e o CDS/PP não se lembraram de levar uma proposta destas à AM, uma vez que o ex-presidente da Câmara, foi por eles candidato à edilidade (vencedor pelo PS três vezes, e vencido pelo PSD e CDS/PP, mas fazendo estes dois partidos subir muito as suas votações)? Estes partidos ainda não se lembraram de homenagear Justino do Fundo porque são partidos ingratos. Os partidos são o que são e está tudo dito.
A Câmara Municipal e a AM não devem descurar este lamiré de Adrião Cunha, porque, se há de facto cidadãos em Penafiel que merecem uma homenagem dourada, este é sem dúvida, Justino de Fundo.

Este texto, esta “ousadia”, não é nenhum tributo ao homem, ao autarca que conseguiu realizar a “obra do século” em Penafiel. E a “obra do século foi “tão só e apenas” a resolução de um dos problemas mais graves com que Penafiel se debatia na altura, que era a nossa crónica falta de água. Neste texto, eu pretendo apenas dizer que estou de acordo, subscrevo inteiramente, a eventual condecoração de um presidente de câmara da minha terra, que teve uma autêntica visão pombalina, quando conseguiu para Penafiel o Hospital Padre Américo do Vale do Sousa. Parece que Justino do Fundo sabia o que estava para acontecer!
E toda a gente sabe o que está a acontecer. O mundo português sabe muito bem o que se está a passar neste país, no que à saúde diz respeito. Refiro-me evidentemente aos injustos encerramentos das urgências de hospitais. Toda a gente vê como estas medidas estão a cair mal nas populações. Ninguém fica indiferente às justas reacções das pessoas, em particular daquela gente mais idosa, mais dependente, mais frágil e mais pobre.

Embora o “sinistro” da saúde, Correia de Campos, diga o contrário, o que está a acontecer em Portugal, nada mais é que um projecto economicista, que chega ao despautério de levar a efeito medidas tão anti-democráticas, tão fascistóides, tão desumanas e tão avessas ao bom senso e à inteligência. Para Sócrates e companhia, um cidadão, não passa de um mero número. Um número reles. Um número abaixo de zero, tal é a consideração que este governo tem pelo elemento humano. Há neste governo um défice acentuado de cultura humanista.

Ora em Penafiel, estas situações jamais poderão acontecer. E não acontecem, porque o Sr. presidente da Câmara (82/93) Justino do Fundo, que pensava mais depressa nas futuras gerações que nas próximas eleições, teve uma visão de longo alcance, uma visão de futuro, uma visão pombalina, como foi dito atrás, ao conseguir trazer para a nossa terra o novo hospital. Porque senão, nós penafidelenses, também teríamos de andar com a cruz das doenças às costas, a morrermos pelo caminho à procura do hospital mais próximo, como está a acontecer neste adoentado país. Nesta matéria, Justino do Fundo está para Penafiel, como o Marquês de Pombal esteve para Lisboa.

Justino do Fundo, lembro-me bem, que foi um presidente da câmara que, todos os dias à noite, de mãos atrás nas costas, ia dar uma volta a pé pela sua cidade, fazer uma espécie de “ponto da situação” àquilo que podia apelar um olhar mais atento, mais preciso, merece de facto o reconhecimento de Penafiel e de todos os penafidelenses.
Esta homenagem, Justino Teles, como também era conhecido, merece-o também por algumas coisas que não fez em Penafiel. Eu disse não fez, note-se. De facto, não foi obra dele, ou de algum dos seus executivos camarários, por exemplo, a trági-cómica mudança do Centro de Saúde para Milhundos, quando havia mesmo em frente do antigo Posto Médico, todas as condições em espaço físico para ali ficar, e as requalificações urbanas na zona nobre da cidade, entre os cafés Centopeia e Nova Doce. Também por isso, por aquilo que não fez, a atribuição da Medalha de Ouro da Cidade de Penafiel, a este cidadão penafidelense, faz todo o sentido e só peca por tardia.

Quanto à data preconizada por Adrião Cunha, o 25 de Abril, penso não ser a melhor. É apenas a minha opinião, mas a data que mais tem a ver com o perfil e a carreira “política” de Justino do Fundo ao serviço do concelho de Penafiel, será no dia 3 de Março mais próximo, já que não pôde ser este ano de 2007. Não que Justino (perdoe-se-me a familiaridade) tivesse ficado alheiro ao 25 de Abril. Não que Justino fosse contra a revolução dos cravos. Claro que não. Todos sabemos que o homem que construiu a Biblioteca Municipal, aderiu desde a primeira hora, de alma e coração, à restauração da liberdade e da democracia em Portugal.
Penso que o dia 3 de Março, é a data mais apropriada. O dia 3 de Março, é o melhor dia, porque sendo dia de aniversário de Penafiel, logo é dia de aniversário do verdadeiro partido de Justino do Fundo. È verdade ou mentira que o ex-presidente da Câmara, que levou a efeito a construção do nosso Palácio da Justiça, dizia constantemente, que o seu partido era... Penafiel?

É tempo de Penafiel saber agradecer, saber reconhecer os seus, como o fez ainda agora com o jornalista e escritor penafidelense Germano Silva. É o seu dever. É a sua obrigação.

Termino dando os parabéns ao deputado municipal Adrião Cunha, por ter estado mais uma vez na linha da frente, quanto a lembrar-se dos verdadeiros amigos de Penafiel.
Assim se vê, a força do... AC.

eXTReMe Tracker