31 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - Conclusão


Notas finais

A primeira nota é para dizer que não entendi a colocação dos dois primeiros capítulos, no princípio da obra, quando eles pertencem ao meio do romance.

A segunda tem a ver com o que disse Alberto Santos por ocasião do lançamento do seu LIVRO no Palácio da Bolsa, a propósito do diálogo inter-religioso: “Ainda há duas semanas um especialista espanhol em terrorismo afirmou no Porto que a Península Ibérica é um alvo preferencial dos extremistas islâmicos. Eles juram que um dia recuperarão o que outrora foi o Al-Andaluz”.

Esta história não me convence muito. Eu penso que se os extremistas islâmicos vierem por aí, é para retaliar. É para exercerem um direito que pensam ter, que é o “direito de resposta”. Se vierem por aí é para ajustar contas com o Zé Maria e com o Zé Manel, isto é, com o Sr. Aznar e com o Sr. Durão Barroso. Em relação a Aznar, a Espanha ainda chora a vingança terrorista de La Tocha. São na minha opinião, dois reles malfeitores, que se o Tribunal Penal Internacional, não andasse só à procura de ditadores e criminosos sérvios, já os tinha posto à sombra, a ver o sol aos quadradinhos, juntamente com os seus dois capangas: Bush e Blair.

Se Portugal viesse, ou vier, a ter problemas de terrorismo, a culpa tem de ser endossada ao “homem da tanga” que hoje palita os dentes a preparar-se para um segundo mandato na Europa, e ao presidente da república da altura, cujo trabalho mais importante dos seus mandatos, foi ter legalizado as touradas de morte na “espanhola” terra de Barrancos. Jorge Sampaio nada fez para impedir a célebre cimeira de guerra nos Açores.

Se de facto o árabe Bin Laden e seus acólitos querem recuperar o seu Al Andaluz, quem me garante que o italiano Sílvio Berlusconi, não queira regressar aos tempos do Império Romano. Nunca se sabe. Pode estar saturado de ver o seu país em formato de uma bota e querer alargar os seus domínios a uma sapataria.

A terceira nota é para falar de novo (desculpem lá a seca) na Idade Média vista como “uma longa noite de dez séculos”, tendo em conta o que dela disse o jornal “Penafidelense”, aquando da apresentação de “A Escrava de Córdova” em Paço de Sousa.
Diz assim o centenário jornal: “… historiadores como Manuel Gonçalves Cerejeira e muitos outros de grande relevo, defendem posição antagónica., quanto a nós (jornal) a mais coerente com a realidade, considerando esta época de luminosidade e espiritualidade”.

Ora, ora, quem havia de ser. O cardeal Cerejeira. Um santo homem. Um santo padre. Uma santa referência deste país. O homem que juntamente com o seu amigo de Santa Comba, tudo fizeram para salazar Portugal. E que bem que eles salazaram este país. E que por via disso, o nosso país não saiu da cepa torta, dessa mesma Idade Média, que tanto amaram.

Luminosidade e espiritualidade, duas palavras que rimam com “liverdade” (livre e verdade). Duas palavras que bem aproveitadas, podiam ser o ponto de partida para a construção de um país que não este.
Este, que é o nosso, que para mal dos nossos pecados, também teve os seus almançores. Muitos almançores.

Termino dizendo que a banda sonora deste texto, foi um vinil “Cantares ao sol” de Janita Salomé, com músicas do norte de África.

E pronto.

Muito obrigado aos que tiveram a paciência de ler estas tretas.
Muito obrigado a Alberto Santos por ter escrito tão belas letras. E por me ter proporcionado o prazer de ler um LIVRO chamado “A Escrava de Córdova”

A todos…

Assalamu alaykum

30 julho, 2008

A ESCRVA DE CÓRDOVA - capítulo V

Cultura e Sensibilidade

Não queria trazer para aqui um velho ditado: “Uma no cravo, outra na ferradura”. Mas é o que acontece com muitos artistas: escritores, poetas, pintores, jornalistas que, detentores de uma vasta cultura, de uma sensibilidade apuradíssima, descambam por aí abaixo com uma facilidade atroz.

Recuso-me a ver em Alberto Santos o que vejo em muitos artistas e intelectuais. Por exemplo: Francisco José Viegas que é um óptimo escritor, logo é uma pessoa culta, de uma enorme sensibilidade e depois é capaz de evidenciar a maior grosseria apoiando a invasão do Iraque pelas tropas americanas, e de estar do lado de Israel, do lado das forças ocupantes na região palestiniana. Não dá para entender.

O mesmo se passa com Vasco Graça Moura, um homem que tem uma vida literária de enorme valor, logo detentor de uns horizontes largos e profundos, mas que não obstaram a que andasse rotular de “garatujas” as gravuras rupestres de Vila Nova de Foz Côa, que são Património Mundial, de chamar “canalha” aos trabalhadores da Marinha Grande, “ralé” aos veraneantes da praia de Leça e por aí fora. Não faz sentido. Não diz a cara com a careta. Não posso conceber estas contradições.

Ainda poderia falar aqui de Manuel Alegre, que é um poeta de categoria, mas que gosta de dar ao gatilho nos animais e ver sangue a escorrer nas arenas.

De Miguel Torga, que é capaz de construir um poema tendo como musa de inspiração uma ave agonizante, a esvair-se em sangue, depois de uma chumbada executada por ele próprio, num dia de caça.

Podia falar ainda de Pacheco Pereira que tem 100 mil volumes nas suas estantes, que escreve muito, devora livros sobre livros e é capaz de se enganar (também foi embrulhado) na questão das armas de destruição maciça no berço da mundialidade cultural. Francamente. Não podemos, não devemos trilhar esses caminhos.

Neste lote não posso incluir, por exemplo Mia Couto, que todos nós sabemos de quem se trata. Este escritor moçambicano, que já esteve em Penafiel, é das melhores “coisas” a escrever em português. Para além de nos receitar “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, foi, é, de uma coerência político-cultural que tenho todo o gosto em assinalar. Basta ler uma “Carta a Bush”, publicada há tempos no JN, sobre a invasão do Iraque, que é sem dúvida o melhor texto, dos milhares e milhares que eu tive oportunidade de ler.
Ainda há muita gente coerente.

(De Mia Couto, um dia destes vou escrever umas coisas muito giras. Aguardem. Descobri que temos algo em comum. Depois eu explico).

Como disse e volto a referir, um artista, seja em que modalidade faça arte, tem a obrigação de interpretar, de interagir com o espaço que o rodeia de acordo com a sua estrutura cultural.
A filosofia diz que os corpos têm tendência para o equilíbrio, por isso se procuram. Ora aqui está uma boa razão para procurarmos ser equilibrados.

E é isto que eu queria que acontecesse entre o escritor Alberto Santos e o nosso presidente da Câmara. Serem um para o outro.
Uma pessoa que escreve, seja poesia, romance, conto ou novela, é uma pessoa de cultura, é detentor de atributos que lhe dão a possibilidade de ver mais e melhor, especialmente melhor. Uma pessoa de cultura e sensibilidade, não deve, não pode trocar a alma pelo corpo, o conteúdo pela forma, a essência pela matéria.


(conclusão dia 01/08/08)

28 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - Capítulo IV

Mais responsabilidades?

E agora, Dr. Alberto Santos?

O autor de “A Escrava de Córdova” arranjou a bonita, com esta história. É que daqui em diante não vou conseguir dissociar, não vou conseguir separar as águas, isto é, não vou poder ver duas personalidades numa só: Alberto Santos escritor e Alberto Santos presidente da Câmara Municipal de Penafiel.

Como é que se vão conciliar estas duas personalidades? Como vão conseguir ser homogéneas? Como vão ser coerentes no exercício de actividades tão nobres e importantes, como a de autarca presidente e como a de escritor?

É que eu tenho para mim, que, a partir da publicação deste LIVRO, (e pelos vistos há mais e ainda bem), este ilustre paçosousense vai ver algo acrescidas, as suas responsabilidades como autarca e como político nesta terra. Poderá ficar com menos margem de manobra para errar, (se for o caso). Os cidadãos poderão passar a exigir, não digo mais, mas melhor, do presidente da Câmara de Penafiel. Vou tentar explicar.

Uma pessoa que escreve um LIVRO destes, só pode ser detentor de uma sensibilidade e de uma cultura muito acima da média do comum cidadão. Mais, não é qualquer político, qualquer autarca que se predispõe a escrever poesia dentro de um pedaço de prosa. Porque Ouroana e Abdus são dois belos poemas dentro de um excelente romance. Ninguém é poeta, ninguém é romancista apenas porque lhe apetece.

Não é qualquer cidadão que faz aquelas belíssimas e pormenorizadas descrições dos ambientes onde se reporta a acção d´A Escrava de Córdova. Ninguém escreve coisas assim com uma perna às costas e um olho fechado. Ninguém acorda de manhã e diz: hoje vou escrever um romance, vou escrever um livro. Não, isto é muito mais profundo. Está no genes da pessoa. Está no gosto que a pessoa cultiva ao longo dos tempos (neste caso ainda curtos) e depois na capacidade que se tem de os desenvolver.

Eu não queria estar na presença de duas personalidades numa só pessoa. Uma, Alberto Santos político e autarca, preocupado com futilidades, como por exemplo: Bracalândias, Shoppings, campos de futebol e frágeis “embaixadores” de Penafiel, e um outro Alberto Santos que é capaz de nos proporcionar momentos tão bons, tão belos, tão superiores como os que nos é dado através deste seu primeiro trabalho literário.
Coloco aqui a seguinte questão:

Será que, se a criação e posterior publicação deste belo LIVRO, fosse uns anitos mais cedo. Será que se as luas e os sóis da cultura, da sensibilidade, da luminosidade tivessem alargado os horizontes de Alberto Santos, mais cedo os tais anitos, ter-se-ia evitado que em Penafiel tivessem nascido alguns corpos sem alma?

Será que o nosso presidente da Câmara, teria outra atenção, outros olhos, outra perspectiva para “coisas” que na minha opinião deveriam ter tido outro princípio, outro meio e outro fim?

Estou-me a lembrar de coisas, algumas já são recorrentes, mas que ainda bailam no imaginário dos penafidelenses: O espaço do antigo cinema deveria estar na posse da câmara municipal. Os passeios da cidade, estariam mais artísticos. A avenida principal da cidade, não pareceria um deserto, com a total ausência de uma mancha verde. A “galeria de arte” nunca seria aquela que fica no espaço da Agrival. O novo museu municipal já estaria a funcionar em pleno. O feriado municipal em 3 de Março já devia ser uma realidade. Uma ou duas colectâneas de poetas penafidelenses, de ontem e de hoje, já poderiam andar a circular de leitor para leitor, de cidadão para cidadão. Nunca seria dado o nome de Daniel Faria ao Prémio de Poesia de Penafiel. Até a esplanada do jardim do Calvário não estaria encerrada tanto tempo. Muito menos esse mesmo jardim, esse mesmo espaço, sem animação cultural/musical no Verão, há vários anos.


(continua dia 30/07/08)

25 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - Capítulo III

A História

Eu quero dar relevo a um outro momento grande deste LIVRO. Tem a ver com a forma como o autor colocou a cativa Ouroana a evitar que as tropas de Almançor profanassem o sepulcro de Santiago na razia que fizeram em Compostela. Bem conseguido. Tiro o meu chapéu.

Como tiro o meu chapéu às belas “histórias da vida”, que o judeu Ben Jacob conta ao anégio e “atraso de vida” Ermígio.
Sobre os costumes mouros, o rabino divertia-se com o impressionado e embasbacado cristão: “como vês, - Não resisto em transcrever estes dois passos - aqui o povo toma banho e anda limpo. Diz-se até que os árabes prefeririam gastar a sua última moeda em sabão que num naco de pão. (…) Tomar banho? Nunca na sua vida se imaginaria a despir-se frente a outros homens e… lavar-se daquela maneira. Aliás, banho e água eram coisas que (Ermígio) só admitia na medida do estritamente necessário para uma higiene e que, até então nunca ninguém lhe ensinara serem muito importantes na vida”.

Através de Ben Jacob, Alberto Santos faz entrar portas adentro toda uma panóplia de conhecimentos sobre o modus vivendis de árabes e judeus, que não é demais salientar.
Tomaram muitos trabalhos sobre história, terem uma abordagem ao conflito inter-religioso entre árabes e cristãos tão simples, clara, directa, pormenorizada, como tem de facto este LIVRO de Alberto Santos. Quem o ler, sai mais rico, muito mais conhecedor de uma civilização muçulmana que teria aberto a boca de espanto a comunidade cristã.

Politicamente e ideologicamente o LIVRO é honesto e transparente. Cristão e católico como é, o autor não teve pejo em dar particular relevo, muito espaço e grande visibilidade aos ditos infiéis, à dita desenvolvida civilização árabe, que sendo assim, estava, séculos à frente do nosso cinzento, rural e monástico mundo cristão.

E porque um livro, é uma opinião (longa neste caso) que o autor tem sobre determinado assunto, Alberto Santos até podia “esconder” a evoluída civilização árabe. Pelo menos não lhe dar tanto ênfase. Não haveria nenhum cristão que se escandalizasse com isso. Podia romancear a história da forma que quisesse. Hoje em dia e a partir de 11 de Setembro de 2001, poucos são os europeus que morrem de amores pelo Islão. Não o fez. Não usou o guarda-chuva protector, onde tudo cabe. Resolveu e bem, brindar-nos com uma belíssima pintura, onde cada um pode, por si, fazer a leitura que quiser.

E porque o mundo cristão estava então muito atrasado em relação ao mundo árabe, não estou de acordo que o Dr. Coelho Ferreira, diga (fê-lo em 20 de Junho na Assembleia Municipal) , que este LIVRO era uma reconciliação com a Reconquista Cristã.
Na minha modesta opinião não é. Este LIVRO empurra-nos ao encontro de uma outra perspectiva. Empurra-nos precisamente para o seu contrário

Tendo em conta o atraso a todos os níveis, (e numa visão não muito profunda) que os cristãos tinham em relação aos muçulmanos, D. Afonso Henriques fez asneira ao levar a efeito a dita Reconquista Cristã (no nosso futuro território). Se calhar foi uma tragédia, na medida em que ao expulsar os ditos ricos mouros destas terras (de Coimbra para baixo) , o nosso primeiro rei fez mergulhar o nosso futuro Portugal, ainda mais fundo na tal obscura Idade Média.

Obscuridade essa que agravou o nosso atraso. Atraso esse que a par de pestes e guerras com Espanha, veio provocar a famigerada saga das conquistas (ditos descobrimentos) pelo mundo fora (matança, saque, pilhagem, escravatura e colonialismo) com alguns “almançores” de primeira linha à cabeça, como foram, por exemplo: alguns monarcas, o Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Francisco de Almeida, Afonso Albuquerque, Pedro Álvares Cabral, etc., etc.

Na minha perspectiva, a Idade Média portuguesa, com as suas trevas, o seu obscurantismo, prolongou-se, com intervalos filipinos e repúblicos, até ao 25 de Abril, que foi quando terminou a vergonha colonial portuguesa.
Aqui sim, aqui é que o nosso país experimentou dar os primeiros passos ao encontro da verdadeira Idade Moderna, do verdadeiro Renascimento.

Mas atenção, este LIVRO não me faz rejeitar o cristianismo, para aplaudir o mundo islâmico. Eu se calhar até sou de descendência judia. Descendente de Ben Jacob, sabe-se lá.
Não me custa nada reconhecer que as sociedades islâmicas, a partir de determinada altura, estagnaram, recuaram até, vítimas do fundamentalismo, da multiplicação de almançores, das Sharias e de teocracias sanguinárias, que se sucederam na condução dos seus destinos. Isso está à vista na maioria dos países islâmicos.

(continua 28/07/08)

23 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - capítulo II


O LIVRO

Eu não vou entrar em comparações, nem incursões a outros livros de outros autores. Muito menos fazer grandes tiradas filosóficas sobre a “Escrava de Córdova”. Não sou crítico literário, nem tenho pretensões a tal. E depois não é crítico literário quem quer. Só o é quem sabe. E eu não sei. Embora eu sustente, que os melhores críticos às vezes, são aqueles cidadãos comuns que gostam de ler, como é o meu caso.

Para começar, devo dizer que há muito tempo que não leio um romance. Não sei como andam as modas em termos de literatura deste género. Autores como por exemplo, José Rodrigues dos Santos, Rodrigo Guedes de Carvalho, Júlio de Magalhães, Francisco José Viegas ou Miguel Sousa Tavares, que são os que estão mais na berra, passaram-me ao lado. Não tenho grande apetência para “calhamaços”.
Eu acho que não cheguei a ir até ao fim d` Os “Maias”, que era obrigatório ler no meu sétimo ano do curso complementar liceal. Mas é um grande livro, de um grande escritor. Eça é que é essa.

Nos últimos tempos, as minhas preferências literárias andam à volta da poesia, assim como leituras de revistas e jornais. Ou seja, leituras breves e mais mediáticas. Ainda não há muito tempo, acabei de ler o trabalho vencedor do Prémio Daniel Faria em poesia, de 2007. Nada mau. Prémio que como sabem, não apoio. Nada de confusões.

Só que no caso do livro de Alberto Santos, como fui picado pela abelha da surpresa, arranjei um antídoto chamado curiosidade, que é como quem diz: “deixa-me ler para crer”.

Sinceramente, e, como disse atrás, não me estava a ver passar uns dias de “calhamaço” nas mãos. Mas, “A Escrava de Córdova” era outra coisa. O autor era penafidelense. Depois, pelos “alertas” de alguns amigos: “o livro é bom” e “vale a pena ler”, juntando ao facto de alguma da acção ter como cenário a nossa Anégia, o nosso Mosteiro, entendi que estavam reunidos alguns bons ingredientes para a confecção de um bom caldo de literatura.

Comecei a lê-lo no dia do Solstício de Verão, com um som de Vivaldi a acariciar-me os ouvidos. E 467 páginas depois, já era dia da França, 14 de Julho. Dia de cantar a “Marselhesa”. Foi muito tempo, porque houve capítulos que tive de ler mais que uma vez.

Então, refeito da surpresa, com que Alberto Santos nos brindou a todos. Depois de ter lido o livro, o que é que se me oferece dizer sobre “A Escrava de Córdova?

Acho que a melhor forma de dizer se gostei ou não do romance, é escrever a palavra livro com letras maiúsculas: LIVRO. Nem mais. Porquê? Porque é um bom LIVRO. Para mim “A Escrava de Córdova” é um excelente LIVRO. Gostei sim senhor.
Tem páginas lindíssimas. Tem parágrafos espectaculares. Chegam a ser sublimes alguns capítulos desta história.

Vou enfatizar aqui alguns pontos que mais me tocaram:
A história de amor (entre Ouroana e Abdus) é lindíssima. O seu desenlace, embora trágico, é fantástico. Para mim é o grande momento do romance. É o momento mágico da estória. Ninguém está à espera das palavras de Múnio e Ermígio: “Toma esta por Ouroana! Morre por Ouroana!” e muito menos da pergunta que ficou sem resposta: “A que propósito estariam aqueles que o matavam a invocar o nome da sua amada? Eu acho isto simplesmente sublime! Gostei pelo inesperado. Fiquei muito sensibilizado com este belíssimo pedaço de literatura.

Fechei o lentamente o LIVRO. Faltaram-me as palavras para acabar estes ventos. Decidi então reter durante mais algum tempo este desfecho. Deixei-me estar assim nesta aresta de paz. Esperei vendavais de feição para me devolverem à voragem dos dias.


(continua dia 25/07/08)




21 julho, 2008

A ESCRAVA DE CÓRDOVA - capítulo I



Dado que este texto é um pouco longo, eu vou colocá-lo neste blogue dividido em capítulos, dia sim e dia não, para não maçar os meus leitores que espero que sejam muitos e bons.

Capítulo I - A Surpresa


Foi num sábado de Maio de manhã, no Café da Sociedade, que pela primeira vez ouvi falar de “A Escrava de Córdova”. Um amigo perguntou-me: “Sabias que o Alberto Santos vai publicar um livro, um romance? Não, não sabia. E é sobre o quê? Parece-me que o tema anda à volta da problemática que envolve cristãos, judeus e árabes, na idade média, não sei mais nada para já”.

Fiquei surpreendido. Algum tempo passou. A confirmação veio depois nas “Notícias com rosto” do JN. E veio também a confirmação da minha surpresa. Surpresa até certo ponto. Porque escrever, escrever, toda a gente reconhece no nosso presidente da Câmara excelentes dotes. Eu já lhe conheço esta faceta há alguns anos, mais ou menos desde que está à frente dos destinos da urbe penafidelense. Sempre dei o devido e merecido relevo aos seus textos, aos seus discursos, quando tive o Jornal 3 de Março.

Não sou suspeito, e mesmo que o fosse era igual. Estou sempre à vontade para falar daquilo que me apetece. Ideologicamente estarei nos antípodas de Alberto Santos. Ele tem um partido político, e eu de partidos só quero é distância. Fui sempre um fã das suas intervenções, dos seus discursos, independentemente de concordar ou não com eles. Dos muitos que lhe ouvi, retenho um, talvez o melhor de sempre: “Alguns Paradoxos da Sociedade Portuguesa”, apresentado por alturas da comemoração do 32.º aniversário do 25 de Abril.
É este texto e um do escritor Mia Couto (de que falarei mais à frente) que guardo religiosamente.
Só que ao longo destes (ainda poucos) anos que conheço Alberto Santos nunca lhe vislumbrei qualquer afinidade, qualquer apetência para assuntos como os focados no seu livro. Alberto Santos nunca deu qualquer sinal de dominar esta temática, um tanto distante no tempo, bastante complexa embora apaixonante. Daí a minha surpresa. Daí a novidade. Boa surpresa e boa novidade.

Para começar, devo dizer que o título do livro devia ser “A Estrada de Córdova”. O Dr. Alberto Santos vai-me perdoar este trocadilho. Porque, e pelo que me apercebi, Ouroana não foi uma escrava qualquer. Quase não foi escrava. Não foi tratada como tal. Não foi obrigada a trabalhar, não foi colocada no mercado de escravos. Foi cativa, raptada duas vezes, dama de companhia, e pela sua beleza, foi amada e tratada como uma princesa.
Porque no que diz respeito a estradas, estas sim, iam todas dar a Córdova naquela altura. Ou não tivesse sido esta cidade a capital da Espanha muçulmana.

Pelo dito, já perceberam que eu já li “A Escrava de Córdova”. E perceberam muito bem. Passei alguns dias de “quarentena”. E só não foi de fio a pavio, porque pelo meio, não lia, escrevia.
Mas já há muito tempo que não experimentava um prazer destes, no que à literatura diz respeito.

Eu sei que estarão por aí milhares ou milhões de pessoas à espera da minha crítica, da minha opinião sobre o romance que veio “destabilizar” o panorama literário (para já penafidelense). Eu sei que a minha opinião é extremamente importante, que a minha análise crítica é fundamental, aqui no nosso meio cultural. Mas, ó senhores intelectuais, ó senhores literatos, ó senhores da letra, sosseguem a piriquita, tenham calma, já lá vamos. Que falta de paciência.

Claro que este texto tem um destinatário principal, que é o Dr. Alberto Santos. Só tenho uma dúvida: Não sei se o devo tratar por tu. Estava capaz de o fazer. Mas, é melhor não. Não estamos propriamente na Feira do Livro da Apadimp e, como soe dizer-se, não andou comigo na escola. Nem eu andei com ele na tropa
Já o meu pai, Vitorino Moreira, sapateiro de profissão no 73 da Travessa dos Fornos, dizia: “Rapaz, toma nota, o respeito é muito bonito, fica bem a toda a gente e cabe em todo o lado. Se me aparece aqui alguém a queixar-se de que tu foste malcriado, dou-te uma trepa de esmeril que te consolas.”

Quando Alberto Santos começou a frequentar a escola primária, já andava por aí a dar vivas ao 25 de Abril, a clamar morte à guerra colonial, a vibrar com o PREC, que hoje em dia é de bom tom diabolizar, e com os ouvidos sempre ávidos de sons vindos de Leonard Cohen, Bob Dylan, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, “Bee Gees”, entre muitos outros, uma vez que a oferta musical era muita, para nossa felicidade, os pós- adolescentes daquela altura.


(continua dia 23/07/08)

06 julho, 2008

A ENTREVISTA AO "NOVAS"


Ex.mo Sr. Director do jornal “NOVAS do Vale do Sousa”


Um dia destes, ao passar por um quiosque de Penafiel, deparei com um título na primeira página do seu jornal, que fez com que eu o comprasse para posteriormente o ler. As parangonas eram: “A água é um serviço público é não um negócio”. Tratava-se de uma entrevista feita ao Sr. Presidente da Administração da empresa municipal “Penafiel Verde”, Dr. Mário Magalhães, que por acaso também é Administrador de outra empresa municipal, a “Penafiel Activa”. Isto para além de ainda ser vereador de uma data de pelouros na Câmara Municipal de Penafiel. Uff!!!!!!!!!

Fui direitinho à página dois e, primeira decepção: deparei com uma mini entrevista. Depois de ler a dita cuja, senti o travo amargo de uma decepção ainda maior: entrevista pobre, muito pobre. Pouco ou nada foi dito que tivesse interesse. A jornalista Marina Barros e o jornal “Novas” não estiveram à altura dos acontecimentos. Marina Barros não fez os trabalhos de casa. Não preparou a entrevista. Ficou muita coisa por perguntar. Ficou muito mais por responder. Fiquei com a impressão que a entrevista foi feita pelo entrevistado.

Claro que a Penafiel Verde (PV) é um êxito, porque a medida deste sucesso traduz-se nos números da sua facturação e não pela prestação de um serviço de qualidade. Quando se diz que o balanço da empresa nestes dois anos de vida é positivo, está-se a passar por cima das constantes reclamações dos consumidores. E como se sabe não são assim tão poucas.

A frase de Mário Magalhães na primeira página do jornal não passa de um chavão. Claro que a água é um negócio para a PV. Se houvesse dúvidas, elas desfazer-se-iam na resposta à terceira pergunta de Marina Barros (sem querer descontextualizar) que diz: “Queremos ainda, já em 2009, garantir a estabilidade aos consumidores dos tarifários… só possível devido ao nosso modelo de negócio”.

Depois, se a PV praticasse um serviço público nunca haveria razões para levantar questões como estas: Porque razão desde que a PV entrou em funções, isto é, há dois anos, a taxa do lixo subiu cerca de 70 por cento: de 3 para 5 euros? Porque razão o aluguer do contador tem outro nome (taxa de disponibilidade doméstico) e qual a razão do agravamento do seu preço ser na ordem dos 93 por cento: de 1,50 para 2,90? E este serviço (aluguer do contador) é legal ou não?

Porque razão, antes da PV, o pagamento das facturas tinha uma tolerância de pagamento de um mês e agora paga-se multa no dia seguinte ao da data limite da sua liquidação? Nem a PT é tão intolerante, Sr. Administrador e Sr. Director do “Novas”.

Porque razão, por exemplo eu, que tive neste mês um consumo de água de 3,90 euros e no final da respectiva factura tenho esse valor em triplicado? Isto sem contar com as taxas de saneamento, que não constam, porque não o tenho ligado. Mas há quem as tenha em quadriplicado.

Mais, porque razão os consumidores estão a pagar em Julho facturas de Maio? Não são horinhas de estar tudo direito? Como é que eu vou saber a água consumi há dois meses atrás?
É daqui que advém o balanço positivo desta empresa municipal? Claro que o Sr. Director do “Novas” não me sabe responder, mas a jornalista Marina Barros se estivesse ao corrente da situação tinha o dever de as confrontar com o Sr. presidente da Administração da Penafiel Verde.

Mas não sabiam, como não saberiam explorar um outro considerando de Mário Magalhães quando disse na entrevista que: “Temos uma equipa jovem, leve e eficaz… comprovada pela rapidez na resolução das falhas habituais”. Claro que não é verdade. Porque se fosse verdade, um consumidor que eu conheço, não estaria cerca de 4 meses com o contador da água avariado.

Eu não pretendo nem de longe, nem de perto, colar à PV, o selo que foi colado à empresa Águas de Portugal pelo Tribunal de Contas, em que o rega-bofe e o forrobodó deu para tudo e mais qualquer coisa. Nada disso. Eu até acredito que o Dr. Mário Magalhães não vai por aí e até gostaria de ter respondido a estas e outras questões, se elas tivessem sido colocadas.
Mas não foram. Por isso e na minha perspectiva o “Novas”, não honrou o seu lema: “Se quer boa informação, o Novas tem a solução”.

É preciso falar português de maneira que as pessoas entendam. Melhor, é necessário que se fale em língua penafidelense (no caso de Penafiel) para que não fiquem dúvidas do que quer que seja e neste particular acerca da PV, tendo em conta a frase que deu o mote a este texto: “A água é um serviço público e não um negócio”.

03 julho, 2008

JORGE NUNO PINTO DA COSTA


Uma vez, já há um bom par de anos, mais de vinte. Década de oitenta. Entrei no Ateneu Comercial do Porto, a fim de ver uma exposição de pintura. O pintor, confesso que não me lembro o nome, era mestre naquela área. Teria falecido há pouco, e chamava-se qualquer coisa Ângelo. Subi a escadaria, entrei no salão de exposições e fui confrontado com um quadro de grandes dimensões. Esse quadro era um retrato de Jorge Nuno Pinto da Costa pintado a óleo numa pose, diria presidencial. Era de facto uma pintura à altura de quem o pintou e da pessoa ali retratada.

Nutro por Pinto da Costa (PC) uma simpatia muito grande. Tenho por PC uma simpatia e admiração que não se limita ao campo desportivo, embora esta estima, tenha começado precisamente a partir do futebol, quando apareceu ao lado de outro grande senhor, apelidado de “Zé do Boné”, o nosso sempre querido José Maria Pedroto. A estes dois nomes está associado a maior emancipação e desprovincianização do FC do Porto, da cidade Invicta e do Norte, em relação ao grande centro de atenções e decisões, que era e parece que ainda é: Lisboa.
Agora que se conhece a despenalização do FC do Porto em relação à sua participação na Liga dos Campeões deste ano, resolvi falar de PC, na sequência de uma recente entrevista na RTP. A determinada altura da conversa, PC disse a Judite de Sousa “os animais são melhores que as pessoas”. Não me contive e pensei alto: “Até nisso és o maior. Até nos momentos mais complicados, nos escreves páginas de grande significado.”

Muita gente não sabe, mas eu sei, já sabia que PC está na primeira linha dos amigos dos animais. Faz parte do ainda pequeno grupo de pessoas que tem pelos nossos amigos, o maior respeito e protecção que eles merecem.

Se PC tem esta postura em relação aos animais, tem outra igual, ou superior. Está ligado ao “Coração da Cidade”, uma instituição de caridade na cidade do Porto, que mata a fome aos pobres, aos sem-abrigo e a quem aparecer por lá para se sentar à mesa e se reconfortar com uma tigela de sopa, a chamada “Sopa dos Pobres”. Conheço muitos políticos com imensas responsabilidades nos destinos deste país, que não tiveram ou não têm a mesma sensibilidade. PC, ao contrário dos políticos, não vê no rosto do comum cidadão, apenas um boletim de voto. PC consegue ver mais longe. Por isso só pode ter outros horizontes.

Ainda não há muito tempo, quando chegou a altura da atribuição do nome para o actual Estádio do Dragão, PC declinou a sugestão do seu nome. Também aqui mostrou a sua linhagem, a sua estatura e a sua grandeza.
Se muitos o atacam, se muitos o criticam, é a inveja a falar mais alto. Mesmo que não saibam que a sua dimensão como cidadão, extravasa em muito o lugar que ocupa. PC está de facto muito para além da sua intervenção como líder do FCP.

Uma palavra final para os recentes acontecimentos em que PC e o FCP estarão a contas com a justiça desportiva. Eu só gostaria de saber o que é que o presidente dos dragões teria feito, que os outros não fizeram. Acho magistral que a acusação incida sobre jogos tão importantes como os disputados com o Beira-Mar e o Estrela da Amadora, num ano em que o Porto foi campeão europeu e campeão nacional, com mais de uma dúzia de pontos de avanço.
Pinto da Costa, sabe de facto para onde vai e, ao contrário do que muitos pensam, ele sabe que não vai par aí.

Assim se vê a força do PC.

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