Cavaco Silva é o presidente da república portuguesa. Foi eleito por cerca de 30 por cento dos eleitores, mas quer se queira, quer não, é o chefe da nação. Hoje é o dia em que ainda não digeri o resultado das últimas eleições presidenciais e já lá vai algum tempo. Não gosto de Cavaco Silva. Nunca gostei. É um mau presidente, é um péssimo político. Tenho muita dificuldade em suportar este senhor.
Quando era primeiro-ministro era homem para nunca se enganar. Vivia convencido que andava sempre no pelotão da frente. Não sei de que pelotão, mas ele dizia isso constantemente. Quando achava que as coisas não lhe corriam bem, pirava-se para o Alentejo profundo com algodão nos ouvidos, para não escutar as forças de bloqueio que andavam a atrapalhar a “retoma” que tanto apregoava. Foi, na minha opinião, o pior primeiro-ministro depois do 25 de Abril, logo a seguir a Durão Barroso e Santana Lopes. Olhem que três. Só falta o maior, o D`Artagnan, para estar completo o ramalhete dos três/quatro mosqueteiros. D`Artagnan que pode vir direitinho da Madeira.
Quando foi presidente do conselho, a única reforma que fez, foi a sua, para juntar às outras duas, que ainda não tinha, mas que veio a ter. E a quarta pensão já vem a caminho. Neste país, a uma vida em que um gajo vive com quatro reformas, devia chamar-se a quadratura do circo. Sim porque uma coisa destas, só pode acontecer num espaço que meta palhaços, logo ocorrem palhaçadas.
Bom, este arrazoado todo, serve para introduzir o tema deste texto, que tem a ver com o discurso de Cavaco Silva, aquando das comemorações do 25 de Abril.
Com que então o nosso presidente está impressionado com a ignorância dos nossos jovens, no que diz respeito à política. É caso para questionar: Afinal Cavaco vive em que país? Ele não sabe que os putos nada sabem de política? Por onde tem andado Cavaco que ignora a ignorância dos putos?
Ele deu um ralhete aos deputados da Assembleia da República, como se a culpa fosse só deles. Ele devia era estar calado. Ele foi político muitos anos e primeiro-ministro durante dez. Ele quis vestir a pele de Pilatos, mas esta roupagem não lhe serve. A fatiota da culpabilidade fica-lhe melhor. Ele também tem grandes responsabilidades no assunto. Eis Cavaco Silva mais uma vez no seu melhor, perdão, no seu pior.
Os políticos não valem nada e ele também não. Ainda recentemente fez a aquela triste figura na Madeira. Ignorou a “boca do Inferno” do senhor da república das bananas, que anda a conspurcar com as suas diatribes, o que resta desta democracia. Que exemplo político deu Cavaco à juventude? A política com estes políticos vai para onde?
Isto só vem reforçar aquilo que eu venho dizendo já há alguns anos: O 25 de Abril é um fiasco, é um embuste, é uma mentira pegada. Ou seja, a revolução foi muito bonita, mas a sua evolução é uma brincadeira de Carnaval..
Se olharmos para a nossa democracia, o 25 de Abril só valeu a pena por ter terminado com a miserável guerra colonial. O resto é uma grandessíssima treta.
O 25 de Abril só serviu para “engordar” políticos. Quanto aos partidos, eles não são sinónimo da democracia coisa nenhuma. Os partidos só apareceram para dar cabo dela. Só apareceram para lançar boémios, tangas, picaretas falantes, comedores e maus governantes. Os partidos só olham para os cidadãos quando estes têm cara de voto, da sua cor. Não há democracia neste país. O exercício de votar, a liberdade de falar, por si só não chega. Não é por acaso que, hoje como ontem, quem não é pró, é contra. Quem é contra, é personna non grata. E isto não é democracia. E não vale a pena estar aqui com acentos repetitivos.
Não há democracia em Portugal. Para mim é ponto assente. Os partidos e os políticos estão a mais neste país, não fazem falta à democracia
Estou convencido que pode haver democracia sem esta tropa fandanga. Um dia destes virei falar disto mais em pormenor. Virei a falar de como é possível uma democracia plena sem partidos, sem políticos, sem politiquices e sem politiqueiros.
Há quem sustente, há muito quem diga e com bastante frequência, que é melhor uma má democracia que uma boa ditadura. Quem assim fala é político de barriga cheia. Eu prefiro, sem margem para qualquer dúvida, uma boa ditadura, a uma democracia como esta que nós aqui temos. Porque esta, nem democracia é. Parece-se mais com um concerto do Tony Carreira, em que tudo é muito bonito, tudo em grande, mas não passa de um produto plastificado em que o autor troca notas musicais por notas de conto, com uma facilidade de estarrecer. Muita forma, pouco conteúdo. Muita matéria, pouca essência.
Esta democracia não tem alma. Esta democracia só interessa aos políticos, aos profissionais da política. Não interessa aos cidadãos, não interessa às pessoas.
Só vou dar um ou dois “pequenos” exemplos, dos milhões que têm desvirtuado a democracia desde Abril de 1974:
Reparem no que vinha no jornal há dias: O governo mudou uma lei para atribuir ao general Ramalho Eanes uma segunda pensão de reforma. Pensava-se que não podia acumular duas reformas, vindas do estado, mas afinal podia (no caso de Eanes, uma por ter sido presidente da república e outra de general das forças armadas). Depois a lei diz que, basta a um ex-presidente da república exercer este cargo só um mandato para ter direito a 80 por cento do seu vencimento. Quer dizer, trabalha (?) cinco anos e recebe uma pensão de milhares de euros, para além de muitas outras mordomias. Isto num país de 2 milhões de pobres, 500 mil desempregados, milhões mal reformados e mais de 200 mil cidadãos que têm fome. Para não falar dos 21 por cento de pobreza infantil que o relatório da OCDE acaba de assinalar.
Mais, o mesmo governo atribuiu há dias ao automobilista Tiago Monteiro um subsídio de 2 milhões de euros para correr na fórmula 1.E a seguir retira o abono de família a 500 mil famílias.
Se isto é democracia, eu estou como diz o José Mário Branco numa canção das suas: “houve aqui alguém que se enganou”, numa alusão directa ao facto do 25 de Abril de 74 ter terminado em 25 de Novembro de 75.
A haver democracia, esta é a do “comes e bebes”. Só que à mesa não está toda a gente. Só os políticos têm direito a lambuzarem-se com as “gorduras” do 25 de Abril. Basta ter atenção ao percurso dos políticos, como eles se movimentam nos corredores dos seus interesses. Sendo depois ainda gratificados com várias reformas e pensões vitalícias.
Depois querem que a juventude perceba de política. Faz ela bem em mandar a política e os políticos às urtigas. Umas discotecas, umas canecas e umas boas quecas, eis Portugal bué de fixe.